A China na Quarta Revolução Industrial

A China na Quarta Revolução Industrial

Por Marcos Lima

A guerra comercial dos Estados Unidos principalmente contra a China tem suas raízes em datas anteriores e agora pode se transformar em uma guerra convencional de grandes proporções, e não importa se o palco será o território chinês, o Oriente Médio ou a América do Sul. O governo de Joe Biden veio para dar uma saída belicista que Donald Trump não foi capaz, a mando dos super grandes capitalistas que vivem pendurados na especulação financeira e nos recursos públicos, que são incapazes de abrir fábricas e gerar empregos; que atacam os trabalhadores e os povos parecendo abutres.

A preocupação dos grandes capitalistas e seus agentes faz sentido. A China é o país com o maior crescimento econômico do mundo e se tornou a segunda maior potência econômica, com um com aumento médio do PIB em torno de 10% nos últimos 40 anos. Em 25 anos ultrapassou o Japão, Alemanha e Inglaterra. Este grande crescimento esteve na base da política imperialista para superar a crise de 1974 com o chamado “neoliberalismo”, que implicou como base material, a transferência de enorme quantidade de plantas industriais para a Ásia, principalmente para a China, onde os trabalhadores ganhavam uma miséria. Essa política foi implantada principalmente a partir da liderança de Deng Xiaoping (1978-1992) que combinou capitalismo com regime de partido único, internalização de tecnologia estrangeiras e o fim dos órgãos de poder popular.

Agora em meio ao mar de lama da economia mundial, a maior crise do capitalismo de todos os tempos, o Banco Mundial está prevendo um crescimento 7,9% para o ano de 2021. O crescimento da China em 2020 foi de pouco mais de 2% sob o forte impacto da recessão mundial. E ainda, essa situação aconteceu por meio de rios de dinheiro público que foi repassado aos grandes capitalistas em todos os principais países, inclusive a China.

Como consequência dessa política, os grandes capitalistas tiveram lucros recordes, apesar da economia estar semi paralisada, o desemprego disparou, assim como aconteceu com a carestia da vida, e um enorme porcentagem de pequenas, micro e médias empresas estão em bancarrota em todo o mundo.

Uma grande revolução que teve como base uma gigantesca crise

A China sempre foi alvo dos países imperialistas que buscavam saqueá-la. Principalmente depois que foi derrotada na Guerra do Ópio (1839-1842 e 1856-1860) até a Revolução de 1949 liderada por Mao Tsé Tung. A Inglaterra que era a dona do mundo, dominou a China e impôs, junto com o imperialismo fracês e alemão, como verdadeiros traficantes internacionais, o consumo de drogas ao povo chinês porque rendia lucros rápidos e grandes. E essa abertura das fronteira tinha como objetivo impor a abertura total, para todo tipo de mercadorias, a partir de alguns portos importantes.

Em 1911, aconteceu a Independência liderada por Sun Yat-sen. Mas as classes dominantes chinesas não foram capazes de enfrentar o massacre do país imposto pelas potências imperialistas. Havia um enorme medo das revoltas populares.

Depois de passar por divisões internas, guerra civil, agressões de todas as partes do mundo, até do Japão, houve a Revolução de 1949. O país passou a se chamar República Popular da China e de fato teve início o desenvolvimento mais autônomo dando fim ao chamado “século das humilhações” (1839-1949), mas num país muito atrasado em termos industriais e com uma enorme maioria da população camponesa.

Com a Revolução veio o controle estatal da economia e a coletivização das terras através da reforma agrária, mas a miséria continuou grande. Em 1958 foi proposto o projeto “O Grande Salto para Frente” para modernizar o país.

Esse projeto fracassou. Em 1966, Mao Tsé-Tung deu início à chamada “Revolução Cultural” que durou 10 anos, contra a nova burocracia que, como casta social privilegiada, crescia na China.

Após esse período, o novo governo iniciou uma abertura controlada de comércio com outros países, principalmente os Estados Unidos, da Ásia e da Europa.

O “sonho” chinês

A China chegou ao século XXI como uma grande potência mundial; os resultados são impressionantes.

Sua inserção na chamada “globalização” e nos organismos financeiros, bem como a política da Nova Rota da Seda e o projeto Made in China 2025,  mostram a forma singular como o país combina abertura econômica e defesa dos interesses nacionais, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento capitalista da China até torná-la numa verdadeira potência imperialista de primeira ordem.

A China nunca chegou ao comunismo apesar da bandeira vermelha e do Partido Comunista, mas é de se admirar tenha tirado 750 milhões de pessoas da pobreza em aproximadamente 20 anos, devido às condições criadas a partir da migração da grande número de empresas imperialistas que buscavam os baixos salários dos chineses e a disciplina dos trabalhadores.

A Nova Rota da Seda

Segundo Diego Pautasso, a Nova Rota da Seda representa a execução da etapa regional de um projeto chinês de “globalização”. “Essa, por sua vez, dialoga com as necessidades nacionais de criação de demanda para a supercapacidade ociosa da indústria chinesa, o estabelecimento de alternativas para dilemas securitários do país – como a vulnerabilidade de suas fontes de suprimento energético e de matérias-primas vitais -, de fortalecimento dos processos de internacionalização das empresas chinesas e exportação de serviços nacionais, e de maior presença em redes de comércio internacional, ampliando o papel gravitacional da China.” (https://bonifacio.net.br/introducao-a-insercao-internacional-da-china/#_ftnref1).

Portanto, a Nova Rota da Seda tem como objetivo garantir o escoamento de produtos chineses para o mundo bem como de receber matérias primas importadas. Enfim, trata-se da tentativa de aumentar o controle do mercado global por parte da China, bem como a supremacia regional com saída para o Pacífico, com acordos com a Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN) e seu desdobramento estrutural, a ASEAN+3 que inclui os dez países membros da associação além dos três países mais influentes do Nordeste Asiático, China, Japão e Coréia do Sul, bem como a região eurasiática, por meio da Organização para Cooperação de Xangai, fundada em 2001 pela  China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão.

É um projeto grandioso que envolve uma infraestrutura gigantesca e emprega milhões de pessoas. Não é por acaso que os Estados Unidos tentam sabotá-lo. Não seria nenhuma surpresa que o governo dos Estados Unidos incentive e até organize rebeliões e guerras nos territórios por onde a Nova Rota da Seda passa, criando caos e instabilidade como fez, por exemplo, em Hong Kong. A presença intimidatória da Forças Armadas dos norte-americanos na Bacia do Pacífico e com diversas bases militares na Coreia do Sul, o Japão, a Tailândia, a Malásia e as Filipinas, etc. é um sinal claro de que enquanto usam os canais da diplomacia em acordos bilaterais estão armados até os dentes para um enfrentamento militar.

Made in China 2025

A intenção do governo chinês é deixar de ser exportador de bugigangas baratas e de baixa tecnologia para passar a fornecer tecnologia de ponta, disputando o mercado com outros fornecedores mundiais, desde 2015, inspirado na “Indústria 4.0” da Alemanha.

De fato, a China já entrou na Quarta Revolução Industrial e está despontando nas áreas que se propôs com o Made in China. São elas: 1) Nova tecnologia de informação avançada; 2) Máquinas-ferramentas automatizadas e robótica; 3) Equipamento aeroespacial e aeronáutico; 4) Equipamento marítimo e transporte de alta tecnologia; 5) Equipamento moderno de transporte ferroviário; 6) Veículos e equipamentos de energia nova; 7) Equipamento de energia; 8) Equipamentos agrícolas; 9) Novos materiais; e 10) Biopharma e produtos médicos avançados.

Os Estados Unidos, não é de agora, tentam subjugar os chineses e o resto do mundo, claro. Na guerra civil entre nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek e comunistas liderados por Mao Tsé-tung, os norte-americanos apoiaram Chiang. A intenção era clara, se impor na região e manter o controle econômico no grande mercado consumidor chinês.

Agora existe uma guerra comercial em que cada um tenta se impor; o imperialismo pode levar isso a uma guerra convencional para manter o controle do mercado mundial.

No ano passado o governo de Donald Trump pressionou vários governos europeus a não usarem máquinas de Raio-X da China sob o pretexto de que seriam um risco à segurança porque a estatal chinesa Nuctech poderia passar dados coletados em aeroportos para o governo que faria uso indevido deles.

Todos viram as acusações dos Estados Unidos à gigante chinesa Huawei, disseram que não respeitam o embargo contra o Irã, faz espionagem industrial e rouba tecnologia. Verdade ou não, os norte-americanos não têm um milímetro de moral para fazer estas acusações, mas o motivo é a grana que envolve a tecnologia 5G nas mãos da Huawei e o controle do mercado de tecnologia. 

Como a Nova Rota da Seda, o Made in China 2025, recebe investimento pesado do governo chinês, com diversos grandes centros nacionais e provinciais de pesquisa. Em 2017 foi colocado em circulação o trem bala mais rápido do mundo (400 km/h) fazendo a ligação entre Pequim e Xangai com mais de 505 mil passageiros por dia.

A estatal chinesa Zhongguancun Development Group (ZDG) investe em centros de pesquisa no mundo inteiro; ela entra com bilhões de dólares, tem mais de um milhão de funcionários, faz parceria com mais de 20 mil empresas que trabalham com alta tecnologia, desenvolvimento de parques tecnológicos e financiamento de alta tecnologia. Os norte-americanos podem se preocupar; uma boa parte dos capitais excedentes do Japão, Korea do Sul e Taiwan estão escorregando para a China.

Os chineses não estão nem aí para esse papo de ideologia. Eles estão prontos para se posicionarem como centro da Ásia, coordenando todas as operações e depois com muita calma chegar ao resto do mundo. O imperialismo norte-americano não pode perder essa parte do mundo, tanto é que gasta bilhões de dólares na manutenção de uma imensa frota militar na região.

A eletrônica e a robótica poderiam nos livrar de muito trabalho

A quarta revolução industrial poderia livrar a Humanidade dos trabalhos exaustivos, das longas jornadas e de um punhado de insatisfação que isso gera se não fossem as relações de trabalho no capitalismo.

A introdução de novas tecnologias, possibilitam o aumento da produção e da produtividade, mas não geram automaticamente a redução da jornada de trabalho, pelo contrário, no capitalismo o desenvolvimento tecnológico tem levado ao aumento da jornada. Os trabalhadores são cada vez mais controlados e compelidos a trabalharem até nas horas de lazer.

O avanço da Inteligência Artificial (IA) e da robótica poderia nos livrar de trabalhos rotineiros e nada criativos, mas no capitalismo sempre que se fala na introdução de novas tecnologia o que aparece no fim do túnel é o desemprego ou o deslocamento deste para outras áreas, sendo que as novas áreas não conseguem absorver a força de trabalho excedente.

Em um artigo de 2017, Cheg Li, mostrou como as tecnologias da Quarta Revolução Industrial e em particular a IA vai atingir empregos das classes médias e não apenas do trabalhador do chão da fábrica; ele cita o exemplo da sede do Goldman Sachs em Nova York que no ano 2.000 tinha 600 corretores e em 2017 apenas 2. (https://outraspalavras.net/outrasmidias/inteligencia-artificial-ameacas-e-alternativas/).

A velha reivindicação pela redução da jornada de trabalho está mais atual do que nunca. Mas, deve-se reduzir drasticamente não para 8 ou 6 horas a reivindicação atual deveria ser para 2 horas com descanso de dois dias na semana e, mesmo assim, não estaria garantido a sobrevivência do capitalismo. Está no seu DNA o aumento constante da produção e da produtividade, sendo portando o fim da linha porque simplesmente não há como consumir tudo que se produz.

A China ou os Estados Unidos podem ganhar essa guerra comercial, mas o capitalismo não tem outra saída a não ser uma guerra de grandes proporções que destrua forças produtivas e ceife milhões de vida. Só a socialização dos meios de produção apresenta uma saída plausível para a Humanidade, o capitalismo só tem a nos oferecer miséria e destruição. Não nos iludamos com o maravilhoso mundo da tecnologia neste sistema.

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