CAZAQUISTÃO E AS LIÇÕES DO TEMPO PRESENTE
SECOS OU MOLHADOS!

CAZAQUISTÃO E AS LIÇÕES DO TEMPO PRESENTE

por Marchesano

Considerar os últimos acontecimentos ocorridos no Cazaquistão de forma binária é continuar a serviço do exercício da política burguesa. Os fatos fazem parte de uma totalidade viva e dinâmica. Muito esforço tem sido depreendido para levar a opinião pública dos países afastados do coração dos fatos a acreditar que os acontecimentos se tratam apenas de uma revolução colorida dirigida pelo imperialismo estadunidense a fim de tensionar a Rússia e, consequentemente, a China, para uma ação truculenta. Assim, uma vez alcançado esse propósito, as mídias corporativas ocidentais, a serviço do imperialismo estadunidense, usariam toda a sua força para macular as imagens dos dois países.

Essa é uma consideração parcial. Aqui não estou negando o ativismo do Ocidente, capitaneado pelos EUA, na formação e promoção das chamadas guerras híbridas. Como sabemos, esse modelo de guerra, baseado na utilização de métodos políticos sofisticados e de guerra não convencional, é usado para desestabilizar governos e regimes políticos não alinhados totalmente ao Ocidente. O Brasil, no ano de 2013, foi abocanhado por essa estratégia. Enquanto muitos desavisados diziam se tratar de levantes populares e da juventude insatisfeitos com os limites do modelo econômico dos governos do PT, as manifestações foram ganhando contornos extremamente reacionários e abrindo inúmeros flancos para a ação mais profícua do imperialismo. 

As táticas utilizadas pelos modelos de guerra híbrida estão descritas no livro de Andrew Korybko – Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes. Aqui no Brasil, o debate em torno da questão ganhou forma com o livro de Alessandro Visacro – A GUERRA NA ERA DA INFORMAÇÃO. Talvez em outro momento podemos voltar a esse debate riquíssimo em estratégias militares, mas muito pobre em termos de luta de classes. Uma coisa é certa, os modelos de guerras utilizados pelos países, em especial pelas potências hegemônicas, seguem o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho. Dito isso, é possível dizer que as táticas adotadas nas guerras são determinadas por duas variáveis: 1. a correlação de forças das classes em disputa e; 2. o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho. O objetivo-mor das guerras realizadas pelas potências expansionistas é apenas um – expropriar e acumular excedentes.

As duas variáveis em questão não nos permitem entender as guerras híbridas como receitas de bolo. É preciso compreendê-las segundo as especificidades do país em questão. Vale destacar um fato importante, as guerras híbridas, iniciadas a partir da crise financeira de 2008, usou como fator predominante de desestabilização,  principalmente nos países do Oeste Asiático e da Ásia Central, o [fator cultural]. As regiões citadas são marcadas pela enorme diversidade étno-linguístico-cultural-religiosa, fato, que uma vez compreendido a fundo, pode ser extremamente importante para a fabricação e promoção de políticas subterrâneas.

Não por acaso, desde 2010 o imperialismo estadunidense vem aplicando uma política divisionista no Brasil. Diferente do Oeste Asiático e da Ásia Central, o Brasil é caracterizado por uma forte unidade, mas não sem contradição, étno-linguístico-cultural-religiosa. A religião predominante é o catolicismo e a língua falada é o português. O imperialismo, que não é nenhum mentecapto e sabe dessa unidade, muito provavelmente leu tudo o que foi escrito por Luís da Câmara Cascudo, Darcy Ribeiro, Antônio da Silva Mello, Álvaro Vieira Pinto, Gondin da Fonseca, Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank, Theotonio dos Santos, Vânia Bambirra, Orlando Caputo, Roberto Pizarro, Gilberto Felisberto Vasconcellos, Josué de Castro, Glauber Rocha, Bautista Vidal, Marcelo Guimarães Mello, sabendo operar com facilidade sobre o território brasileiro. Não sem razão, a mídia corporativa, as grandes indústrias farmacêuticas e as finanças transnacionais souberam manufaturar a opinião pública dos trabalhadores brasileiros, sobre a questão da pandemia e das vacinas, por meio dos elementos supersticiosos presentes na cultura popular.

Para que sua estratégia de ação não se encontre limitada aos elementos supersticiosos, o imperialismo promove uma política divisionista no interior da prática política brasileira. Por isso a construção binária de: negro versus branco; mulher versus homem; cis versus trans; hétero versus homossexual é extremamente necessária. Uma vez capilarizada essa construção, o imperialismo começa a promover a imputação de crimes ideológicos. Exemplo: a questão racial passa a ser tratada não mais a partir da prática política, mas sim de elementos morais. Dessa maneira, o imperialismo passa a culpabilizar exclusivamente o indivíduo e suas práticas particulares sem, no entanto, tocar no fundamento do racismo, o qual, segundo Eric Williams – em Capitalismo & escravidão -, encontra-se no próprio desenvolvimento do capitalismo. Esse raciocínio cabe para os demais binarismo colocados acima.

A prática política reduzida à moral tem um único objetivo: eliminar gradativamente as liberdades democráticas e civis de toda a sociedade. Fato interessante é que a eliminação gradativa dessas liberdades acontece de modo diretamente proporcional à “defesa da democracia e de suas instituições” por alguns setores de exquerda. É uma estratégia sofisticadíssima. Ao se opor ao fascismo, a exquerda promove a autocracia. A porta de entrada e o fundamento teórico de sustentação dessas estratégias políticas são a juventude, como elemento social vulnerável em experiência de vida e teoria, e as universidades públicas, respectivamente.

Em 1938, em uma carta à juventude, Trotsky mostrou como a juventude é um elemento determinante para o sucesso de qualquer prática política, inclusive da revolucionária. Trotsky disse que – Um partido revolucionário deve necessariamente basear-se na juventude. O atributo básico da juventude […], reside na disposição de entregar-se total e completamente à causa […]. Observe o teor de tal afirmação, ela pode ser utilizada para entender os reais motivos de o imperialismo conseguir atrair a juventude e por meio dela alcançar sucesso para a imposição das suas bandeiras. Como essas bandeiras, no marco da permissibilidade do capitalismo, estão totalmente apartadas de um programa político revolucionário, a juventude tende a tornar-se em: 1. sábios oportunistas; ou 2. ultra-esquerdistas desenganados; ou 3. burocratas conservadores; ou 4. excelentes policiais.

Não nos esqueçamos camaradas – o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado pela sua capacidade de atrair para suas bandeiras a juventude da classe operária.

O que está por trás dos conflitos no Cazaquistão?

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No último dia 02.01.21, o governo do Cazaquistão anunciou a desregulamentação do mercado do GPL e o fim do subsídio, o que levou a aumentos agudos dos preços. Diante do brutal aumento dos preços inúmeras manifestações populares eclodiram nas ruas do país – As manifestações começaram na região de Mangystau, rica em petróleo, a oeste, quando o governo suspendeu os controles de preços do gás liquefeito de petróleo (GLP) no início do ano, informou a Reuters.

Após as manifestações de massa, o governo recuou rapidamente e tentou restabelecer o controle sobre preços, mas não os subsídios aos produtores; o que teria levado as estações de serviço a vender com prejuízo. O resultado foi uma escassez de combustível que só veio agravar os protestos. Este grifo merece uma atenção especial.

O Cazaquistão é nono maior produtor de petróleo do mundo em extensão territorial, atraindo bilhões em investimentos estrangeiros, entre eles os da: Exxon Mobil (EUA), Shell (anglo-holandesa) e Chevron (EUA). As gigantes petrolíferas americanas, Chevron e Exxon Mobil, têm liderado os investidores no setor de petróleo e gás do Cazaquistão por quase três décadas. As duas empresas chegaram ao Cazaquistão em 1993, logo após a independência do país, e entre as duas têm participações nos três maiores campos de petróleo e gás do país.

Eles primeiro investiram na TengizChevrOil (TCO), que opera o gigantesco campo de petróleo Tengiz. A TCO é um consórcio de empresas liderado pela Chevron que detém uma participação majoritária de 50%, enquanto a Exxon Mobil detém uma participação de 25%. A Chevron também detém uma participação de 18% na Karachaganak Petroleum Operation desde 1997 e a Exxon Mobil detém uma participação de 16,81% na North Caspian Operating Company (NCOC). Em 2018, Tengiz produziu 623.000 barris por dia de petróleo, Karachaganak produziu 278.000 barris por dia e Kashagan produziu 281.000 barris por dia.

A produção em Tengiz, o maior campo de petróleo do Cazaquistão, foi reduzida nos últimos dias quando alguns petroleiros interromperam atividades em apoio aos protestos que ocorriam em todo o país da Ásia Central. Após a paralisação, a Chevron disse em comunicado – “A TCO está aumentando a produção de forma segura e gradual para atingir as taxas normais”.  

Aqui é onde pode ter existido uma ação coordenada entre as agências Think Tanks, os serviços de inteligência anglo-estadunidenses, os grandes conglomerados petrolíferos (Exxon-Mobil, Shell e Chevron), as ONGs pró-Ocidente, setores da extrema direita (nacionalistas e wahabistas), assim, como alguns elementos burocráticos da classe trabalhadora. Com isso, não quero eliminar o peso da ação e nem a capacidade de mobilização diante das precárias condições de vida dos trabalhadores cazaques. Contudo, a inexistência de uma direção revolucionária, a nível mundial, a fim de dirigir o movimento para a derrubada do capitalismo, torna o espontaneísmo das massas muito volúvel e suscetível a influências e ataques internos e externos.

Segundo Aynur Kurmanov, chefe de uma nova organização pública chamada Taymas (Incansável) e também líder do Movimento de Resistência Socialista – 

Houve uma conspiração de monopolistas que se beneficiaram com a exportação de gás para o exterior, gerando escassez e aumento do preço do gás no mercado interno. Então, eles próprios provocaram as revoltas. […] Hoje, no Cazaquistão, não há oposição legal, todo o campo político foi limpo. O Partido Comunista do Cazaquistão foi o último a ser liquidado em 2015. Restaram apenas 7 partidos pró-governamentais. Mas há muitas ONGs trabalhando no país, que cooperam ativamente com as autoridades na promoção de uma agenda pró-Ocidente.

Ao eliminar os subsídios governamentais, os conglomerados transnacionais que exploram gás e petróleo no Cazaquistão elevaram o preço acima do sustentável, com vistas a causar uma convulsão social. A convulsão, uma vez consolidada contra o aumento dos preços, passou a ser dirigida contra as estruturas de poder no Cazaquistão – há forças muito diferentes trabalhando nisso, [especialmente porque os trabalhadores não têm seu próprio partido, sindicatos de classe, um programa claro que atenda plenamente aos seus interesses.] Os [grupos de esquerda existentes no Cazaquistão são mais como círculos] e não podem influenciar seriamente o curso dos eventos, disse Aynur Kurmanov.

Logo após dois dias de manifestações e com a generalização do descontentamento, as mobilizações passaram a focar unicamente nas estruturas do poder político do Estado cazaque. Essa mudança de orientação se deu quando as bandeiras de luta contra o aumento dos preços e precarização das condições de vida foram substituídas pelas clássicas bandeiras das revoluções coloridas: corrupção e mais cidadania.

Em questão de dias, a indignação se espalhou para outras regiões do país. Inicialmente, os protestos foram pacíficos. Os participantes dos atos exigiam preços mais baixos, salários e benefícios mais altos, insistindo no retorno da idade da aposentadoria aos parâmetros anteriores. Em solidariedade aos manifestantes, trabalhadores em vários campos de petróleo entraram em greve. No entanto, a situação mudou rapidamente e saiu do controle. Os primeiros atos de terror e vandalismo foram cometidos nas cidades de Zhanaozen e Aktau, na região de Mangistau, no sudoeste do Cazaquistão. Em seguida, os distúrbios se transformaram em confrontos violentos em Almaty e em outras cidades. […] Setores estratégicos foram paralisados, a saber: os aeroportos de Aktobe, Aktau e Almaty. Havia uma ameaça à segurança do cosmódromo de Baikonur. Grupos de jovens armados atacaram as forças de segurança, capturaram e destruíram edifícios, ameaçaram médicos, bombeiros e civis. Uma onda de saques varreu as cidades – “Finalmente, os crimes relacionados a grupos nacionalistas se disseminaram. Os ataques seletivos contra edifícios governamentais e prestadores de serviços especiais, incluindo incêndios, roubo de armas, invasões de lojas e outros locais públicos mostram isso. […] Não se pode excluir que as ações de todas essas forças foram coordenadas a partir de um centro que operava em favor da desestabilização do Cazaquistão”, apontou Gennady Andreyevich Zyuganov, presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Rússia (PCFR).

Com o correr das manifestações populares inúmeros flancos foram abertos na estrutura política do Cazaquistão, permitindo que agentes externos operassem no país. Tal afirmativa vem sendo negado com unhas e dentes pela esquerda pró-Ocidental, como podemos ver na “Declaração de Solidariedade Internacional com o levante no Cazaquistão”, de iniciativa de Paul Murphy, deputado do Parlamento Irlandês e parte da rede People Before Profit, assinada por mais de 200 organizações e destacadas personalidades de todo o mundo e divulgada pelo site Esquerda DiárioNós rejeitamos a propaganda da ditadura governante de que este levante é produto de “radicais islâmicos” ou que é uma intervenção do imperialismo dos EUA. Não há nenhuma evidência disso. É o recurso usual de um regime impopular – culpar agitadores “de fora”. Tanto a rejeição como o avanço das táticas imperialistas de guerra híbrida demonstram uma coisa: [A crise histórica da humanidade reduz-se à CRISE da DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA]. 

“Ações em grande escala foram organizadas para desestabilizar a situação. Os representantes da clandestinidade conseguiram, por um lado, [fundir-se com as massas de manifestantes] e, por outro, [contar com elementos desqualificados e criminosos]. Manifestantes obstruem o trabalho de ambulâncias e instituições médicas, usam armas de fogo, intimidam a população, roubam lojas e saqueiam. A natureza de suas ações é indicativa de medidas planejadas, coordenadas e financiadas do exterior”, disse Andreyevich Zyuganov.

Doze policiais morreram em confrontos com manifestantes em Almaty, a maior cidade do Cazaquistão, disse a TV estatal nesta quinta-feira (6), acrescentando que um dos corpos foi encontrado com a cabeça decepada. Na quarta-feira (5), a agência de notícias Sputnik havia anunciado oito policiais e soldados da Guarda Nacional mortos e outros 317 agentes feridos durante protestos em várias regiões do Cazaquistão, citando dados do Ministério do Interior.

A Amnistia Internacional afirmou que os protestos são “uma consequência direta da repressão generalizada das autoridades aos direitos humanos básicos”. Todo movimento amplo contém elementos distintos. As manifestações no Cazaquistão refletem tanto a agitação social quanto as atividades atrozes da guerra civil oculta da burguesia. Neste caso, a guerra civil oculta inclui extremistas comprometidos com o islamismo radical (wahabismo), inúmeras ONGs pró-Ocidente, setores paramilitares fascistas, organismos de inteligência e o Blackwater (exército mercenário – responsável direto pela execução de Muammar al-Gaddafi na Líbia)

Em O que o Cazaquistão não é, Craig Murray disse que sempre considerou o Presidente Nazarbayev como o mais inteligente dos ditadores da Ásia Central. Nos assuntos estrangeiros Nazarbayev habilmente equilibrou-se entre a Rússia, o Ocidente e a China, nunca se inclinando definitivamente numa direção. O equilíbrio político do Cazaquistão é estratégico. O país, segundo a geopolítica, é considerado um landlocked country, isto é, um país sem litoral, o maior do mundo. Assim sendo, ele depende, além da própria estabilidade política, da estabilidade política dos países vizinhos, considerados países de trânsito. Apesar da busca pelo equilíbrio, em tempos de profundas crises o equilíbrio é substituído pela obrigatória escolha de um dos lados. Diante do ascenso das forças imperialistas ocidentais, Nazarbayev foi obrigado a buscar apoio na Rússia. 

A Rússia se prontificou rapidamente em responder o pedido de ajuda, não por filantropismo ou altruísmo como muitos acham, e sim por interesses econômicos. O Cazaquistão é o maior país entre os “stãos”. É riquíssimo em recursos energéticos e estratégicos. É um dos parceiros da integração da Eurásia, conduzida pela aliança sino-russa. É membro das novas rotas da seda, da União Econômica Euroasiática (EAEU), da Organização para Cooperação de Xangai, da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). Isto é, é um país extremamente estratégico para a aliança sino-russa.

Após o envio das forças do Tratado de Segurança Coletiva, o ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi elogiou as ações da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderada pela Rússia. Como se vê, o que está em jogo são interesses econômicos, não sentimentalismo barato, como muitos acham, do PCCh e de Putin diante dos acontecimentos no Cazaquistão.

Essa compreensão elimina parte das análises incorretas. O que se passa atualmente entre Rússia, China e os EUA é uma disputa intra-burguesa, a qual utiliza as demandas dos trabalhadores para se arriscarem uma contra a outra. Aqui no Brasil, a imprensa corporativista e a imprensa golpista vermelha se colocam ao lado dos EUA nos conflitos euroasiáticos, observe a matéria da revista Carta Capital:

A comunidade internacional pede calma das forças cazaques e insiste para que Moscou respeite a independência e a soberania do país vizinho. Conhecido por pouca tolerância à oposição, o Cazaquistão é um aliado-chave da Rússia, mas também busca ter relações fluidas com o Ocidente e a China. O presidente chinês, Xi Jinping, [elogiou a repressão mortal] adotada pelo governo cazaque, classificando o presidente Tokayev como um líder “muito responsável.” A revista que busca defender a “soberania” do Cazaquistão é a mesma que defende os interesses da diplomacia da Pfizer no Brasil, ao colocar toda a população na rota da Lei Marcial Médica dos grandes laboratórios farmacêuticos.

O que estamos assistindo ultimamente é um salve-se quem puder das frações burguesas. A longa depressão, que se arrasta desde a crise dos Tigres Asiáticos (1997), passando pela a crise russa (1998), crise argentina (2001), crise da internet (2001), crise financeira (2008), ainda não encontrou saída. A burguesia encontra-se dentro de uma aporia – de um lado, ela não consegue reorganizar as forças produtivas com vistas a produzir um novo padrão de acumulação suficiente para auto-valorizar o capital; de outro, ela não pode, assim como fez em outras épocas, queimar o excesso de capital, pois esta estratégia exige que ocorra forte destruição e desvalorização do capital acumulado para que a taxa de lucro possa se recuperar. A crise necessária para que isto viesse a ocorrer seria devastadora não apenas para os sistemas econômicos nacionais, mas repercutiria de um modo igualmente intenso na ordem imperialista que vigora no mundo atual.

O que resta é o movimento que as diversas frações burguesas estão realizando: o de recuperar momentaneamente as taxas de lucro, promovendo o aprofundamento de alguns mercados existentes. Enquanto não houver uma saída à crise, os sócios majoritários da classe dominante, num movimento autofágico, alimentar-se-ão do sangue dos sócios minoritários. O movimento autofágico obriga os capitalistas a centralizarem os capitais sob o comando de poucas mãos. É isso que está em jogo no Cazaquistão e que logo ocorrerá noutros países ainda não alinhados à estratégia do imperialismo decrépito estadunidense ou à aliança sino-russa.

Antes de ser uma guerra híbrida, a classe trabalhadora encontra-se em meio à disputa intra-burguesa inflamada pela crise de 2007-08. Os EUA, como potência hegemônica em contestação, utilizam as táticas da guerra híbrida contra seus contestadores diretos, Rússia e China. Nenhum dos lados interessa à classe trabalhadora e nem pode representar seus anseios. De um lado, nos encontramos sufocados pela democracia bárbara dos Estados Unidos; de outro, pela diplomacia de ferro de China e Rússia.

Diante do exposto, como a classe trabalhadora deve se posicionar?

  1. Com a firme convicção de que:

A premissa econômica da revolução proletária já alcançou há muito o ponto mais elevado que possa ser atingido sob o capitalismo. As forças produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenções e os novos progressos técnicos não conduzem mais a um crescimento da riqueza material. As crises conjunturais, nas condições da crise social de todo o sistema capitalista, sobrecarregam as massas de privações e sofrimentos cada vez maiores. O crescimento do desemprego aprofunda, por sua vez, a crise financeira do Estado e mina os sistemas monetários estremecidos. Os governos, tanto democráticos quanto fascistas, vão de uma bancarrota a outra.

  1. A economia, o Estado, a política da burguesia e suas relações internacionais estão:

Profundamente afetadas pela crise social que caracteriza a situação pré-revolucionária da sociedade. O principal obstáculo na transformação da situação pré-revolucionária em situação revolucionária é o caráter oportunista da direção do proletariado, sua covardia pequeno-burguesa diante da grande burguesia, os laços traidores que mantém com esta, mesmo em sua agonia.

  1. As “Frentes Populares” de um lado e o fascismo de outro:

São os últimos recursos políticos do imperialismo na luta contra a revolução proletária. No entanto, do ponto de vista histórico, […] A orientação das massas está determinada, de um lado, pelas condições objetivas do capitalismo que se deteriora; de outro, pela política traidora das velhas organizações operárias. Destes dois fatores, o fator decisivo é, sem dúvida, o primeiro: as leis da História são mais poderosas que os aparelhos burocráticos.

  1. A tarefa estratégica do próximo período período pré-revolucionário de agitação, propaganda e organização:

Consiste em superar a contradição entre a maturidade das condições objetivas da revolução e a imaturidade do proletariado e de sua vanguarda (confusão e desencorajamento da velha geração, falta de experiência da nova). É necessário ajudar as massas, no processo de suas lutas cotidianas a encontrar a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa da revolução socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de REIVINDICAÇÕES TRANSITÓRIAS que parta das atuais condições e consciência de largas camadas da classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado.

  1. Diante do brutal desemprego e da carestia da vida:

Devemos lutar com as palavras de ordem: ESCALA MÓVEL DE SALÁRIOS e ESCALA MÓVEL DAS HORAS DE TRABALHO. A primeira deve assegurar o aumento automático dos salários, correlativamente à elevação dos preços dos artigos de consumo. A segunda, deve unir aqueles que têm trabalho àqueles que não o têm através dos mútuos compromissos da solidariedade. O trabalho disponível deve ser repartido entre todos os operários existentes, e essa repartição deve determinar a duração da semana de trabalho.

  1. Quanto aos sindicatos:
    1. Na luta pelas reivindicações parciais e transitórias, os operários têm atualmente mais necessidades do que nunca de organizações de massas, antes de tudo de sindicatos.
    2. Os sindicatos não têm e não podem ter programa revolucionário acabado, em virtude de suas tarefas, de sua composição e do caráter de seu recrutamento, e por isso eles não podem substituir o Partido.
    3. A maioria mais oprimida da classe operária só é levada à luta em momentos especiais, os de um excepcional ascenso do movimento operário. Nesses momentos, é necessário criar organizações ad-hoc que congreguem toda a massa em luta: os COMITÊS DE GREVE e os COMITÊS DE FÁBRICA.
    4. Nos períodos agudos das lutas de classes, os aparelhos dirigentes dos sindicatos esforçam-se para tornar-se senhores do movimento de massas com o fim de neutralizá-lo. Isto já acontece em simples greves, sobretudo quando há greves de massas com ocupação de fábricas que abalam os princípios da sociedade burguesa. Em tempo de guerra ou de revolução, quando a situação da burguesia se torna particularmente difícil, os dirigentes sindicais tornam-se, de ordinário, ministros burgueses.
  2. A luta contra o imperialismo e contra a guerra:
  1. A guerra imperialista é a continuação e a exacerbação da política de pilhagem da burguesia; a luta do proletariado contra a guerra é a continuação e aprofundamento de sua luta de classe. O advento da guerra muda a situação e, parcialmente, os processos de luta entre as classes, mas não muda nem seus fins, nem sua direção fundamental.
  2. A burguesia imperialista domina o mundo. O conteúdo decisivo da política do proletariado internacional será, consequentemente, a luta contra o imperialismo e sua guerra. O dever do proletariado internacional será ajudar os países oprimidos em guerra contra seus opressores.
  3. O proletariado não deve solidarizar-se no que quer que seja com o governo burguês do país colonial. Ao contrário, deve manter sua completa INDEPENDÊNCIA POLÍTICA.
  4. A luta contra a guerra deve começar, antes de tudo, pela MOBILIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA DA JUVENTUDE.

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