O golpe militar como “saída” para a crise do regime

O golpe militar como “saída” para a crise do regime

(Matéria publicada originalmente em novembro de 2019)

Um componente fundamental da crise política é a entrada em cena dos militares que passaram a colocar em pauta a possibilidade. Além das declarações do general Hamilton Mourão, há a cada vez mais frequente intervenção dos militares na chamada “guerra urbana”, em favelas do Rio de Janeiro e na Bahia. O general Mourão longe de ter sido punido, foi elogiado pelo próprio general Vilas Boas, que é o chefe do Alto Comando do Exército. Uns dias depois, Mourão estava dando palestras para 100 oficiais da ativa. Todos os demais poderes públicos ficaram mudos e calados. Portanto, qualquer candidatura para as próximas eleições, que em princípio deverão acontecer em 2018, deverá bater continência para o Alto Comando do Exército. 

Da Favela da Rocinha, saíram 950 soldados e entraram 500 policiais para patrulhamento diário. Isso já demonstra que a situação já poderia ter sido controlada desde o início simplesmente colocando os 500 policiais, ou um número superior caso necessário. O fato de colocarem soldados nas comunidades tem como objetivo acelerar o processo golpista. 

Recentemente, o general Vilas Boas outorgou a medalha de pacificador ao juiz Sergio Moro que, se tornou um dos principais incendiários da crise política que o regime vive nesse momento. E importante lembrar que todo golpe de Estado sempre pretende transparecer uma certa aparência democrática. Sempre todos os golpes foram assim. O golpe militar de 1964 não foi a exceção e o atual, que se encontra em curso, também não está sendo a exceção. Por isso, entra a questão do Artigo 142 da Constituição, que os militares impuseram à Constituição de 1988, e eles interpretam como a possibilidade de poderem intervir por meio de um golpe militar, apesar de que devam ser chamados por um dos poderes constituídos.

O PMDB na linha de fogo

Na recente entrevista do ex deputado Eduardo Cunha, que está preso, à revista Época, ele disse que está disposto a delatar à nova Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, tudo o que ele sabe. Dentre outras, há vários comentários que implodiriam imediatamente o governo Temer e o PMDB: “Joesley [Batista (da JBS)] poupou muito o PT”; “escondeu que nos reunimos eu e Joesley, durante quatro horas, com Lula na véspera do impeachment; Lula estava tentando me convencer a parar o impeachment”;  “houveram omissões graves”; “se jogou uma nuvem de suspeição no Supremo sem base alguma”; “Janot queria que eu, Eduardo Cunha, colocasse na proposta de delação que houve pagamentos para deputados votarem a favor do impeachment; isso nunca aconteceu”; “o que eu tenho para falar e arrebentar a delação da JBS ia debilitar a Odebrecht e agora posso acabar com a denúncia de Dilson Funaro”. 

As declarações de Eduardo Cunha junto com a movimentação no mesmo sentido de Antônio Palocci têm como objetivo viabilizar, de uma maneira mais truculenta, os ataques contra os trabalhadores por meio do endurecimento do regime. Para isso, em primeiro lugar, é preciso liquidar a candidatura Lula que representa um entrave para poder colocar um governo muito mais duro. No total há 18 tentativas de delações premiadas em andamento, das quais a Procuradora já está negociando quatro.

Lula e a direita

Clique na imagem para ler sobre: “Lula e o fim da esquerda atual”

A candidatura Lula, mesmo com as delações de Palocci e a sua renúncia ao PT, longe de ter sido afetada, simplesmente se fortaleceu e continua disparada na frente das pesquisas. As declarações de Palocci usam uma linguagem e jargões de extrema direita, o que revela que provavelmente ele simplesmente assinou o que lhe foi imposto. 

Segundo a última pesquisa do Datafolha, Lula estaria com 38% das intenções de votos seguido, bem longe, por Jair Bolsonaro. Todos os outros candidatos enfrentam enormes dificuldades para decolar. Um ponto muito importante é que o grosso da esquerda, como toda a “frente popular” encabeçada pelo PT, que segue a política de conciliação de classes, aposta todas as fichas em Lula. A probabilidade de uma movimentação por fora das eleições não existe porque esta esquerda é integrada ao regime, é de cunho parlamentar. Até a possibilidade de um segundo candidato decolar está bastante remota.

Havia a possibilidade do ex prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, decolar, mas isso não tem se demonstrado um fato. Mas Lula, com a política defensiva, com a integração ao regime, ele representa uma das engrenagens do desenvolvimento do golpismo, até no próprio Judiciário. 

Lula nomeou o ministro Joaquim Barbosa apesar de saber que ele tinha ligações fortes com a direita. Ele preteriu, por exemplo, o procurador Eugenio Aragão, que depois veio a ser nomeado durante dois meses ministro da Justiça no segundo governo Dilma; ele era o único procurador da República que enfrentava o ministro do STF Gilmar Mendes. 

No caso do Mensalão, o PT entregou José Dirceu, Genoíno e outros dirigentes do PT ao leões justamente para não enfrentar a direita. Os governos do PT nomearam outros elementos que se tornaram golpistas para a Procuradoria Geral da República, como Roberto Gurgel em 2009 e Rodrigo Janot em 2013. A partir dessa política covarde do PT, e fundamentalmente a partir da condução coercitiva de Lula em 2016, a Operação Lava Jato quase ganhou vida própria e ela foi para cima do regime político quase que todo como instrumento do imperialismo. 

A direitização do regime politico

Clique na imagem para entender mais sobre ” A RELAÇÃO REPULSIVO-EXCITATÓRIA DO BOLSONARISMO”

Na atual situação política, somente Bolsonaro e Lula se mostram candidatos competitivos. E Bolsonaro ainda com várias restrições. João Dória e Geraldo Alckmin são candidatos muito fracos. O PSDB de fato, como partido se esfarelou; não tem lideranças viáveis importantes. O PT também não. As únicas lideranças alternativas à Lula, nesse momento, seriam Haddad que obviamente está sem pique político e Flávio Dino, que é governador do PCdoB do Maranhão e que é uma liderança local. Ciro Gomes, que é uma liderança mais direitista, tenta decolar com dificuldades, mas ele também apresenta toda uma série de pressões que deverá enfrentar a extrema direita.

A nova Procuradora Geral da República colocou a Lava Jato debaixo de um grupo de trabalho, tirando uma parte da autonomia. Mas a Lava Jato mesmo controlada, já trouxe 150 denúncias e isso gerou mais de 400 processos, atropelando o arcabouço jurídico. O que a Procuradora tem como tarefa colocada é fortalecer o regime a partir do golpe do Judiciário, tirando um pouco desse vale tudo da frente, dando um pouco de legitimidade para poder avançar mais forte na legalização de um regime que consiga aplicar os ataques contra os trabalhadores que esse governo atual não está conseguindo. 

Há a expectativa de que o TRF4, a segunda instância da Lava Jato, consiga inviabilizar a candidatura Lula no próximo ano. O próprio presidente do TRF4 já se manifestou a favor de condenar Lula, mesmo antes de ter analisado nada em relação aos processos em curso, como o do  apartamento da OAS e o do sítio de Atibaia. 

Armínio Fraga, o ex presidente do Banco Central de FHC e sócio do mega especulador norte-americano George Soros, se desfiliou do PSDB e agora ele é candidato pelo Partido Novo, de extrema direita. Outros direitistas do PSDB foram para o partido Novo. A movimentação da extrema direita se fortalece no sentido da “expulsão dos corruptos”, ou seja da forte direitização do regime político. Isso será feito por meio da aplicação da terceira etapa do golpe que somente pode ser uma ditadura de cunho bonapartista, por fora do Congresso e tendo na base uma ditadura burocrático policial, com o Exército nos bastidores ou abertamente em cena. 

Dentro da crise política mundial como reflexo da crise econômica, além do que nós falamos sobre o Brasil, chama atenção, brevemente, dois fatos que aconteceram nos últimos 3 dias, que foram os atentados terroristas em Las Vegas e o referendum na Catalunha. Não vou me expandir muito sobre isso porque escrevemos duas matérias que podem ser acessadas no nosso site, Gazeta Revolucionária, e também pode ser acessado na nossa página no Facebook.

No caso do atentado terrorista em Las Vegas, pode-se dizer o seguinte: esse terrorista entrou num hotel com 10 malas que continham dezessete armas. No hotel, mais outras 16 que tinha em casa. Agora, volta a velha pergunta de sempre: (então atentado terrorista também tem estes assuntos) como é possível que no hotel ninguém tivesse percebido nada? É estranho ele entrando e saindo com arma desse jeito? Por trás desse atentado terrorista todo, pelo menos desde 2001, sempre, sempre estiveram presentes os serviços de inteligência e sempre teve, a gente não tem uma bola de cristal nem acesso aos dados dos serviços de inteligência, mas nós sabemos, isso numa análise mais profunda, a quem isso beneficia. Estamos fazendo essa análise desde os atentados às torres gêmeas. A quem isso beneficia? O que isso traz por trás? E agora, não por coincidência, o governo Trump está se beneficiando desse atentado para discutir a lei do porte de armas.

No caso da Catalunha é um caso interessante também porque revela uma profunda crise, uma profunda divisão na burguesia imperialista. Tudo bem que a burguesia na Espanha, uma burguesia imperialista de quinta categoria, onde o imperialismo espanhol atua como um capacho do imperialismo inglês e norte-americano e tem muitas contradições com a burguesia da Catalunha. O que acontece nesse momento é o fato de que os lucros na Catalunha caíram e com os lucros caindo isso acaba gerando esses problemas todos que nós estamos falando aqui, onde a burguesia está buscando simplesmente aplicar a velha política do salve-se quem puder.

Levante ! Organize-se! Lute!
A hora de Lutar é Agora!

🕶 Fique por dentro!

Deixe o trabalho difícil para nós. Registe-se para receber as nossas últimas notícias directamente na sua caixa de correio.

Nunca lhe enviaremos spam ou partilharemos o seu endereço de email.
Saiba mais na nossa política de privacidade.

Artigos Relacionado

Deixe um comentário

Queremos convidá-lo a participar do nosso canal no Telegram

¿Sin tiempo para leer?

Ouça o podcast da

Gazeta Revolucionaria