Identitarismo em sua derivação radical e outros importantes desafios para a esquerda no Brasil

Identitarismo em sua derivação radical e outros importantes desafios para a esquerda no Brasil

Por Ricardo Guerra

Não é de hoje que os representantes dos interesses imperialistas e seus “sócios” nacionais, responsáveis pelo atrelamento e manutenção do desenvolvimento do Brasil em condição subalterna aos EUA, empreendem esforços para destruir o legado de emancipação nacional decorrente da implementação do projeto do nacional-trabalhismo varguista: um ideário organizado para dar lastro à cidadania e servir de motor para o desenvolvimento nacional a serviço de todos os brasileiros.

A nacionalização do petróleo e do subsolo, protegendo nossas riquezas contra as maliciosas pretensões estrangeiras, os direitos trabalhistas, a construção de indústrias estratégicas como a Petrobrás, a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional, a prioridade pela educação pública gratuita e de qualidade, e o reconhecimento das manifestações culturais dos negros e dos índios, são algumas das importantes realizações desse destacado período da nossa história, que tanto incomodou (e ainda incomoda) as arcaicas oligarquias nacionais – culturalmente cooptadas e submissas aos interesses imperialistas.

Uma abjeta e mesquinha burguesia que olha exclusivamente para o próprio umbigo e se contenta com a manutenção da economia nacional na base primária da cadeia produtiva, não se importando com a  atuação do Brasil como mero produtor de matérias primas para abastecer a economia central, a qual eles tanto admiram e servem.  

A maioria sequer reside no Brasil. Muitos vivem da apropriação parasitária e especulativa do capital e nada de concreto aqui produzem. São ferrenhos defensores do capital apátrida transnacional, não detêm qualquer senso de pertencimento à própria nação, tampouco apresentam empatia com o povo ao qual originalmente estão vinculados, e não se interessam por um projeto de desenvolvimento independente para o Brasil, orientado para melhoria do capital financeiro, humano e social da nossa população.

Esse processo vem se aprofundando, e os interesses nacionais, populares e democráticos do povo brasileiro, que desde muito são submetidos a contundentes ataques do imperialismo – em princípio oriundos da Inglaterra e posteriormente dos Estados Unidos da América – visando impedir o controle do Brasil sobre a sua própria base econômica, após o golpe de 2016 vêm sofrendo a mais voraz investida já vista na história do país.

O golpe foi dado exatamente para isso. Acelerar o processo de entrega do patrimônio público, estatal e financeiro nacional, para sanear as contas que não fecham no centro do capitalismo mundial frente ao agravamento da atual crise do sistema.

Nesse  momento tão grave de destruição da nossa soberania, destituição dos nossos direitos sociais e desnacionalização das nossas riquezas naturais e reprimarização da economia, a esquerda brasileira encontra-se completamente perdida e cada vez mais distante da perspectiva revolucionária e combativa que lhe caracterizou o passado. Até mesmo da posição social democrata da qual se aproximou nos anos 1990, se afastou. E o que é pior, pendurada em dossiês e chantageada, agora parece ter se deixado inebriar pelo canto da sereia da ideologia neoliberal. 

Sem o domínio da narrativa dos fatos e dos acontecimentos políticos que realmente interessam, hoje a esquerda se preocupa apenas com a formalidade institucional, pensa exclusivamente nas eleições, e sua atuação está limitada simplesmente a denúncias não muito contundentes, em sua maioria de caráter moral. Uma oposição consentida e completamente controlada que se contenta em fazer o papel do MDB da ditadura. 

Apequenada, a esquerda vem se configurando um arremedo do partido democrata norte-americano, reduzindo, assim, seu espectro de luta ao campo individual e de grupos, encampado pelos movimentos identitários: a luta de classes e a combatividade de outrora, cederam lugar, restritivamente, a reivindicações que não são orientadas para confrontar a agenda de destruição neoliberal promovida contra o Estado brasileiro.

Contextualizados completamente fora da realidade do Brasil, um país tido como de costumes conservadores – no qual a hipocrisia campeia – os movimentos identitários foram, e ainda continuam a ser, facilmente manipulados pelas forças que querem criar uma situação para o avanço dos ataques do Imperialismo contra o Brasil: dividir e polarizar é uma das formas mais eficientes e fáceis que a direita se utiliza para obter e exercer o controle total de uma sociedade (dominação de espectro total) e assim esmagar qualquer possibilidade de resistência popular.

Dessa forma, usando e abusando do processo de criação de discórdias e instigando uma acirrada competição entre os setores ditos conservadores e progressistas da sociedade, a direita começou a se utilizar da criação de fakes news para promover debates sobre moral e costumes, e assim distrair a esquerda da luta revolucionária e anti-imperialista (diversionismo), manietando suas ações ao identitarismo. 

Ademais, estrategicamente recorrendo a infiltração de agentes e a escalação de pautas, a direita foi encurralando e conduzindo a esquerda a um processo de radicalização em torno da pauta identitária, deste modo, tentando colar nela a marca de destruidora dos valores da família, da religião e dos costumes: conceito que não condiz com a realidade da esquerda verdadeiramente combativa e em nada agrega à luta anti-imperialista e à combatividade em prol da luta dos trabalhadores. 

Quanto mais se deixar levar por esse contexto de competição, criado justamente para gerar polarização e desencadear uma disputa (cismogênese) restrita ao terreno do embate moral, a esquerda dissipará energias que deveria canalizar para lutar em favor da defesa da nossa soberania, da proteção do nosso patrimônio público, financeiro e estatal,  e pela construção de um projeto de desenvolvimento nacional colocado a serviço de todos os brasileiros: se transformará na esquerda que a direita gosta – aquela que se lixa para o trabalhador, acha soberania e nacionalismo coisa ultrapassada, mas adora a lacração.

Foi com uma parcela significativa dos seus representantes agindo assim, que a esquerda permitiu ser caracterizada como cruel representante de uma “ideologia vilã”, doutrinadora do mal, e virou um alvo fácil à disposição do malho dos hipócritas, dos vendilhões da fé e dos “fundamentalistas” de plantão, pseudo defensores do bem.

Radicalizada em torno do identitarismo, a esquerda foi perdendo a credibilidade não só com os setores mais conservadores da sociedade, particularmente a classe média, mas também com significativa parcela do campo popular, nesse caso, também por deixar de fora (ou na melhor das hipóteses em segundo plano) as bandeiras de luta vinculadas às causas dos trabalhadores. 

Enquanto o identitarismo for reduzindo o espírito de luta da esquerda ao campo individual e de grupos e a luta de classes for sendo ignorada pela esquerda, a política nacional vai continuar entregue (de mão beijada) a um grupo tão ferrenhamente alinhado aos interesses das finanças globais – completamente opostos às necessidades do Brasil e aos interesses do povo brasileiro – cuja estratégia genocida penaliza os interesses tanto da classe média  quanto dos pobres, e praticamente inviabiliza qualquer possibilidade futura de desenvolvimento soberano ao nosso país.

A radicalização pelo identitarismo mostrou ser caminho taticamente ineficaz para a esquerda: suas lutas, cada vez mais, fragmentadas e orientadas apenas por questões secundárias, não dispõem da força necessária para desencadear um movimento que permita reverter esse quadro de destruição neoliberal no qual nos encontramos.

Sendo assim, cabe aos trabalhadores e a seus representantes, no âmbito dos partidos, sindicatos, associações comunitárias e demais organizações nos locais de moradia e de trabalho, impulsionar a luta coletiva pela base.

O colapso do sistema capitalista levou o imperialismo a apertar o cerco contra o Brasil e demais países latino-americanos em busca de manter e aumentar o controle cultural, territorial e sobre os recursos naturais e patrimoniais desses países, e a esquerda verdadeiramente revolucionária e anti-imperialista precisa:

  • Atuar nos locais de moradia e de trabalho no sentido de promover a consciência de classe e o reconhecimento da necessidade da luta de classes;
  • Elevar o conhecimento da população para a luta política e o enfrentamento ao imperialismo e a seus representantes locais; 
  • Caracterizar, clara e objetivamente, a atual conjuntura geopolítica e política nacional no sentido de organizar a mobilização das massas e das classes trabalhadoras contra as classes reacionárias.

Diante desse quadro, não restam dúvidas de que a esquerda brasileira precisa menos de identitarismo radical e mais da defesa de outras bandeiras que contribuam para fortalecer o pólo revolucionário e anti-imperialista, tais como: 

  • Lutar pela revogação da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência Social e pela reversão das privatizações das empresas estratégicas para o desenvolvimento nacional;
  • Cancelar e auditar a criminosa dívida pública, que hoje consome mais de 40% do Orçamento Público Nacional;
  • Direcionar a economia para as atividades produtivas e proibir as atividades relacionadas a especulação financeira;
  • Repatriar mais de US$ 500 bilhões escondidos em paraísos fiscais por super ricos;
  • Proibir às empresas contribuírem com campanhas políticas;
  • Garantir a gratuidade de serviços básicos universais como saúde, educação e transporte;
  • Sobretaxar as grandes fortunas;
  • Acabar os impostos sobre as moradias populares.

Bandeiras não vão faltar.

É impossível, à esquerda, ignorar os condicionantes identitários que interferem na capacidade de determinados grupos para o exercício da sua cidadania: eles estão intimamente ligados à necessidade desses grupos passarem a ter os seus direitos básicos, como oportunidades de emprego, acesso à saúde, à educação e à segurança, legalmente reconhecidos. Não podemos apagar essa triste realidade vivenciada pela maior parte da população brasileira. Mas já passou da hora da esquerda se descolar da derivação radical que tomou conta dos movimentos identitários, nos quais sobram hashtags, bolhas e cancelamentos, mas faltam nacionalismo e luta pela soberania nacional

Não se trata de negar a importância das lutas estabelecidas pelos movimentos identitários, mas refletir sobre a sua condução a uma radicalização desnecessária. Precisamos aprender a lição: a gravidade da situação exige a concentração  de energias!

Para se libertar das armadilhas da direita, o que a esquerda precisa nesse momento é radicalizar a luta anti-imperialista e revolucionária, expurgar dos seus quadros qualquer um que se posicione contrário aos interesses nacionais, e cuidar – urgentemente – da construção de um Projeto de desenvolvimento e integração nacional, popular e soberano, orientado para a promoção humana e social do nosso povo.

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