Geoestratégia norte-americana e suas táticas colonizadoras e imperialistas

Geoestratégia norte-americana e suas táticas colonizadoras e imperialistas

Por Alejandro Acosta e Ricardo Guerra

O Imperialismo, em sua versão clássica, caracteriza-se pelo conjunto de políticas organizadas com o objetivo de promover a expansão territorial, econômica e/ou cultural de um país sobre outros.

Na sua versão “moderna”, o imperialismo tem como base a formação dos gigantescos cartéis que passaram a dominar o mundo a partir do final do século XIX. Esses cartéis são oriundos do processo de concentração da riqueza, próprio do desenvolvimento do capitalismo, que se acelera acentuadamente nos momentos de crises.

De acordo com a exemplar definição elaborada por Vladimir Ilich Lenin, no seu famoso livro “O imperialismo, fase superior do capitalismo”, o imperialismo nasce da fusão entre o capital financeiro e o capital industrial, trazendo como consequência a formação de associações internacionais de monopólios capitalistas e um “acordo” para a partilha de toda a terra, pelas potências capitalistas, através da negociação de territórios já explorados ou através da guerra.

Hoje, apenas um super exclusivo e concentrado grupo de famílias controla o mundo e a economia global é comandada por uma “super entidade”, formada por uma rede de poucas corporações transnacionais, com 28 enormes conglomerados controlando as 30 mil maiores super empresas. 

O imperialismo surgiu relacionado à política (neo)colonizadora praticada no século XIX pelos países europeus na África, na Ásia e na Oceania. Essa mesma política foi adotada pelos EUA em relação à América Latina (nessa mesma época) e, após a Segunda Guerra Mundial, quando o país assumiu a condição de superpotência mundial, foi ampliada  para uma perspectiva planetária.

O interesse imperialista por anexações revela, antes de tudo,  uma postura racista, fundamentada na crença da própria superioridade (moral, espiritual, política e/ou cultural), usada como pretexto para justificar o ímpeto expansionista e demandar um intenso processo de exploração.

Na prática, o imperialismo impôs uma mudança fundamental nas relações econômicas no mercado mundial: ao invés de exportar mercadorias a partir das matrizes, passou a exportar capitais e explorar os países atrasados do ponto de vista do desenvolvimento capitalista, de onde extrai matérias primas de graça e explora mão de obra semi escrava.

Como parte da agressão ideológica e material para impor sua dominação, os europeus, por exemplo, usaram o pretexto da realização de uma missão civilizadora para levar a virtude e o esclarecimento aos “selvagens africanos”. Os norte-americanos se auto intitularam o povo eleito por Deus para comandar (entenda-se subjugar) o continente americano, e, posteriormente, às demais nações, submetendo-os impositivamente ao seu modo de vida (por eles tido como perfeito), como sua missão natural no planeta (Doutrina do Destino Manifesto e excepcionalismo americano).

Na realidade, o objetivo intrínseco dessa política é apenas justificar gananciosos interesses relacionados ao domínio e ao poder no campo das relações internacionais, e não difere muito da retórica nazista quanto a ideia de desigualdade de classes e raças, e a disposição para  se impor através de guerras e punir seus oponentes.

O sistema capitalista funciona assim desde o início do século XX, e a super exploração das (neo)colônias, na periferia do sistema, asseguram super lucros para os países capitalistas centrais. Um mecanismo de controle do sistema de exploração global, o qual, para criar condições para que uma parte da sua população viva em extraordinária condição de vida e outra parte em relativo conforto, milhões de cidadãos mundo afora, particularmente na América Latina e Oriente Médio (mas não apenas aí) necessariamente viverão em condições subumanas e indignas de vida. 

O capitalismo submetido à ideologia liberal era típico do século XIX. Essa ideologia foi exacerbada no século XX, com a aplicação do receituário “neoliberal”, e como não admite a possibilidade de equilíbrio e desenvolvimento cooperativo e solidário, despreza a perspectiva de desenvolvimento humano e social e se estabelece em torno da busca insaciável por lucros a qualquer custo, o que tensiona ao máximo as próprias leis do capitalismo.

Um exemplo disso é que, diante das enormes dificuldades que encontra para manter o ritmo de crescimento, o capitalismo investiu num processo de reprodução ampliada do capital, e agora depende umbilicalmente da especulação financeira, que movimenta um capital inflado, de forma fictícia, 15 vezes mais que os recursos da própria produção. Dessa forma, devido a sua volatilidade e influência no bem-estar financeiro da economia, as possibilidades de crises se tornam cada vez mais frequentes e profundas.

O imperialismo é uma consequência natural do desenvolvimento do capitalismo, sob o qual se pretende muito mais que conquistar e assegurar as fontes primárias de recursos biológicos e naturais de outros países, para manter o dinamismo da sua produção. O imperialismo também visa:

  • Garantir novas rotas para escoamento da sua produção;
  • Obter mão de obra barata e mercados para o crescimento da sua economia;
  • Eliminar a competição de outros concorrentes imperialistas (ou não imperialistas);
  • Inviabilizar qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano nos países a ele submetidos.

Os EUA seguiram à risca essa cartilha e, orientados pelo lema “a América para os americanos”, a chamada Doutrina Monroe, realizaram uma grande investida intervencionista em busca de expansão e dominação territorial, política e cultural por toda a América Latina. Afinal de contas, esse “era o seu destino manifesto” e, portanto, algo garantido para si como “direito” (é o que dizem de si mesmos). 

Impuseram, entre outras coisas, a anexação de 50% do território mexicano, uma área rica em recursos florestais e minerais, e com terras boas para a agricultura, aumentando cerca de 25% a sua área geográfica. Instalaram uma base naval no Havaí e posteriormente anexaram o arquipélago. Entraram em guerra com a Espanha sob o pretexto de auxiliar Cuba em sua luta pela independência, e acabaram transformando a ilha em seu principal entreposto para a segurança das rotas no Golfo do México, e intervieram em favor do Panamá, no movimento separatista contra a Colômbia, como parte da estratégia para construir um canal no istmo daquele país.

A partir da Segunda Guerra Mundial a perspectiva intervencionista norte-americana avançou, e uma política externa semelhante à adotada na América Latina foi estabelecida em nível mundial, quando assumiram a prerrogativa de interferir em qualquer parte do Planeta. 

Desta feita, o discurso sobre os perigos do comunismo e a necessidade de sua contenção foram as justificativas usadas para a implementação da estratégia de dominação mundial perpetrada pelos EUA, no período que ficou conhecido como Guerra Fria. A versão moderna da “luta contra o comunismo” é a suposta “luta contra o terror”, desavergonhadas desculpas para dar golpes e intervir em outros países (como estão tentando fazer agora com a Venezuela), dizendo ser em “nome da democracia”.

Na América Latina, que, em termos geoestratégicos, nunca deixou de ser a região mais importante para eles, a maior expressão da intervenção imperialista estadunidense foi o Plano Condor, com o qual estenderam suas garras sobre a América do Sul e estabeleceram ações conjuntas de repressão, eliminando adversários e regimes contrários aos seus interesses. 

Promoveram golpes e instituíram governos inescrupulosos e sanguinários que prenderam, torturaram e mataram militantes políticos rivais para garantir que o desenvolvimento nesses países acontecesse de forma assimétrica, subordinada e atrelada exclusivamente aos seus interesses, limitando-os na sua capacidade de formular e executar política econômica própria. 

O genocídio em alguns países foi algo comparável ao promovido por Hitler na Alemanha Nazista; isso aconteceu por exemplo no Chile e na Argentina, e continua acontecendo em outros países como a Colômbia, o Chile e o México. O modelo do pinochetismo chileno e o estado narco/paramilitar da Colômbia continuam se fortalecendo no Brasil (“Evangelistão do Pó), com o objetivo de exportá-lo a toda a América Latina.

Dessa forma, de braços dados com as oligarquias apátridas locais, que incluem representantes de vários espectros no empresariado, no campo político, no campo jurídico e nas nossas Forças Armadas, os EUA foram conseguindo imprimir sua agenda imperialista até a década de 1980, quando promoveram uma nova orientação estratégica de dominação, com a financeirização da economia e a imposição da ideologia neoliberal.

As reformas pró-liberalização econômica, além de tirar a capacidade de controle sobre a própria economia e o poder de formular políticas de acordo com a especificidade da realidade social dos países latino-americanos, tinham como principal objetivo criar um conjunto de regras para facilitar a incorporação dos países da América do Sul, ao ambiente econômico e sistema político dos Estados Unidos. 

Nesse contexto, o domínio do Brasil é um dos pontos mais importantes para a perspectiva norte-americana de concretizar sua política de integração planetária, nos seus moldes, e para as suas pretensões quanto ao rearranjo da estrutura do capitalismo mundial em permanente situação de crise. 

A condição geográfica, suas riquezas e possibilidades de pujança econômica, oferecem ao Brasil o poder de facilmente romper essa estrutura econômica dependente e subdesenvolvida ao qual é submetido e lhe confere a capacidade de liderar um movimento político nesse sentido, em dimensão continental: algo que o imperialismo jamais iria admitir. 

Isso ficou bastante evidente, quando por exemplo, o governo brasileiro começou a articular projetos ousados, com investimentos na Petrobras que levaram à descoberta do Pré-sal e à perspectiva de grande fluxo de riquezas para o país, a criação da  Unasul e do Conselho de Defesa Sul-americano, e a participação na formação do Brics e na criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), orientados para o financiamento de projetos de infraestrutura em países emergentes.

A reação foi imediata e a aceleração da dominação política, seria uma consequência inevitável aos olhos do imperialismo. Até porque a crise capitalista mundial de 2008, que nunca tinha se fechado, voltou a se apresentar com força a partir de 2015.

Por causa do aprofundamento da crise capitalista mundial a margem de manobra do imperialismo está ficando cada vez mais curta,  e a necessidade de salvar os lucros a qualquer custo os levou a investir, ainda mais pesadamente, na realização de ações para desestabilizar e desestruturar governos democraticamente eleitos e impor seus princípios de economias abertas, a eles. 

Para promover a desintegração, manter a dependência econômica e desestabilizar qualquer tentativa de superação dessa condição no Brasil e em toda a América Latina, os golpes tradicionais deixaram de ser usuais e foram substituídos pela tática de guerra híbrida: uma espécie de “agressão militar sem tropas”, que envolve estratégias de comunicação e ciberguerra, além de outros variados métodos de influência, tais como diversionismo, cismogênese, manipulações diplomáticas, fake news e lawfare.

Nesse novo tipo de golpe, que apresenta uma característica fisicamente menos ostensiva, não se descarta a possibilidade do uso da força militar direta, sempre que seja necessário. Não esqueçamos que Donald Trump foi retirado do governo justamente porque não conseguiu a tão desejada guerra para os abutres capitalistas, que, como sempre, buscam essa “saída” para superar sua crise. 

A estratégia mudou, mas a voracidade continua a mesma. Agora estão usando as forças militares dos próprios países a eles submetidos, de forma mais sutil e em sinergia com o poder jurídico local, como suporte para a formação de um consórcio jurídico/militar/financeiro/midiático: um quadrunvirato que controla todo o jogo em favor dos interesses imperialistas. Ou seja, dos super grandes capitalistas, os abutres que controlam o mundo hoje.

O objetivo primário é estabelecer uma dominação de espectro total  em todo o continente e, para isso, opera, como uma pinça, tanto a direita quanto a esquerda, visando direcionar o discurso de massas e a opinião pública em uma direção favorável ao imperialismo, e assim dominar, completamente, nações e populações. Usam e abusam dos dossiês para realizar chantagens, recorrem a tática da infiltração nas instituições e representações políticas de esquerda, e têm no Partido da Imprensa Golpista (PIG) e no PIGuinho vermelho grandes aliados.

O objetivo principal é “livrar” o continente de qualquer repercussão ideológica e geopolítica orientada para a autonomia e soberania, efetivando a América Latina como zona geoestratégica, e estabelecer as bases para uma nova hegemonia global dos Estados Unidos, impedindo o ressurgimento de um novo rival de poder global, contendo a expansão do Brasil (através do MERCOSUL e da UNASUL), minando as atividades dos BRICS e arrefecendo a influência da China. 

Essa nova arquitetura da conduta imperialista foi pensada para favorecer a construção, contínua e permanente, de uma estrutura de governos baseada em leis ultra repressivas (Patriot Act Tabajara) e avançar na imposição do modelo narco/paramilitar/colombiano por todo o continente. Mas também prentende dar um ar de legalidade e normalidade democrática à estratégia de elevar ao poder candidatos estrategicamente preparados para sabotar os interesses dos Estados Nacionais latino-americanos, enquanto fazem bravatas de cunho nacionalista e promovem falsos discursos patrióticos, enganando os ingênuos e incautos: uma configuração, na qual, o agressor imperialista pretende evitar responsabilização ou retaliação, se passando por “bonzinho, do bem e dentro da lei”.

Apesar de tudo isso, o desenvolvimento cada vez mais contraditório do capitalismo carrega nas entranhas elementos muito explosivos. A repressão, as ditaduras, o fascismo e as guerras contrarrevolucionárias, sejam híbridas ou ostensivas, andam de mão dadas com revoltas e revoluções. E é em condições muito críticas que levantes populares surgem, e com eles novas lideranças. 

Na atual correlação de forças, os trabalhadores e a população têm sido transformados em meros espectadores pelas direções ultra vendidas, que tomaram contas das organizações de massas, e organizar a luta dos trabalhadores para defender a soberania do Brasil e da América Latina, é algo que precisa ser  feito  o mais rápido possível. 

A crise capitalista deve ser paga pelos grandes capitalistas, verdadeiros abutres sobre a nossa região, e não pelos povos latino-americanos e de todo o planeta. 

Sob as diretrizes corretas todo o mundo pode prosperar, e para isso acontecer, o capitalismo tem que ser superado e o imperialismo precisa acabar. Não há mal que perdure para sempre: a luta é grande, e precisamos nos organizar!

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