É preciso reconquistar a crítica e reconstruir a prática

É preciso reconquistar a crítica e reconstruir a prática

Por Marcos Lima

Em diversas entrevistas, o filósofo italiano, Franco Berardi, diz ser necessário voltarmos a interpretar o mundo, mesmo na aparente contramão do que Marx um dia disse sobre os filósofos, de que eles se punham a interpretar o mundo e o que interessava era transformá-lo. Parar Bernardi esse movimento agora é necessário porque estamos assistindo a um “apagão da sensibilidade”, quando a idiotice é propagada em forma de rebeldia contra a ciência e a razão.  

A queda da ilusão “neoliberal” deu lugar a política identitária (os neocolonialismos, os racismos). A pergunta então que ele coloca é “Como podemos pensar em recompor um corpo tão desagregado, uma mente tão medrosa?” 

Não podemos viver como um grupo de autômatos num mundo de zumbis, não podemos viver sem tempo e capacidades para conhecer e elaborar a respeito da complexidade do mundo contemporâneo.

Há uma crise da mente crítica. Mas não será a mentalidade crítica capaz de se espalhar e criar a luta e a solidariedade, isso acontecerá muito mais se formos capazes de criar uma estética sobre a percepção psíquica, da dor, do desejo… A nossa capacidade de sintetizar essa dor e os desejos em memes e em comunicação visual é muito importante para mobilizar as pessoas em torno de projetos políticos de transformação.  

A direita tem sido eficiente em interpretar a impotência, a necessidade que nasce da impotência. A “esquerda” oficial continua seu velho discursinho sobre uma coisa que não existe no capitalismo, a “democracia”, um processo estéril porque manipulado pelo predomínio midiático do capital. Na realidade, é a democracia para os ricos e privilegiados.

Uma política de extermínio em massa para salvar o capitalismo

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Falando sobre a pandemia, o vírus e a capacidade de recuperação Bernandi disse “40 anos de agressão neoliberal e financeira destruíram antecipadamente as defesas imunitárias da sociedade.” Portanto, ele não está falando propriamente da pandemia como causa e nem como consequência, ele pegou o mote para falar do que é real no mundo, uma crise do capitalismo nunca antes vista.

Na Itália, nos últimos dez anos depois da crise econômica de 2008, como os bancos estavam mal, a sociedade inteira, os trabalhadores, tiveram que pagar as dívidas dos bancos. Então foram cortados o orçamento da educação em 8 bilhões de euros e o da saúde em mais de 10 bilhões de euros, fora os serviços sociais. Tudo isso para tornar possível ao sistema bancário recomeçar o seu sistemático roubo que já existia antes e continuou depois. Isso não basta. Temos que considerar que há 40 anos desde que uma senhora inglesa disse “Não existe nada que se possa chamar de sociedade, existem indivíduos, famílias, empresas em conflito para obter lucro”. Margaret Thatcher lançou a campanha de transformação “neoliberal” da economia, iniciou-se um processo de privatização sistemática dos serviços que haviam sido construídos pelos trabalhadores para os trabalhadores, tais como a escola pública, a saúde pública, o transporte público, a comunicação pública etc. 

Essa guinada privatista foi feita porque nos disseram que o interesse da maioria da população é ser mais bem servida por quem busca o melhor lucro pessoal. Esse foi o esforço dos teóricos “neoliberais” para convencer a sociedade de que o melhor para a nossa vida é deixá-la na mão de Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Goldman and Sachs, do Fundo Monetário Internacional – FMI, e principalmente da grande burguesia, porque eles se ocuparão de nós muito melhor (sic) do que poderíamos fazer sozinhos.

Para realizar o processo de privatizações, a ideologia “neoliberal” afirmou que para garantir a inovação técnica e a inovação farmacológica, da criação das vacinas, por exemplo, é necessário o lucro. É inacreditável que todo o mundo político e a maioria da sociedade tenham acreditado em fábulas, mentiras, paralogismos, isto é, um raciocínio que parece verdadeiro, mas com premissas falsas. 

O “neoliberalismo”, como política dominante no atual capitalismo em crise, está destruindo o mundo, eles não respeitam nada, o capital é cada vez mais absolutista, não reconhece ninguém, nenhum limite, nem ético, nem político, nem ecológico, nem jurídico. 

O genocídio vem se tornando a estratégia final do capitalismo. Esqueçamos um pouco sobre a validade ou não destas vacinas, mas o certo é que a OMC negou a liberação do conhecimento de como fazer a vacina para a Índia, ou seja, caímos em uma nova forma de dominação, a dominação pela morte.

A ditadura capitalista se mostrou irredutível. O lucro acima de tudo. Podem morrer 20 milhões de pessoas? O que interessa é que o lucro das grandes corporações e dos acionistas sejam fartamente garantidos.

A devastação da “pandemia”

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A “pandemia”, mais o uso dela, está criando uma devastação profunda, a depressão em massa e um tipo de sensibilização fóbica em relação ao corpo do outro, está desencadeando um certo tipo de autismo, uma situação muito perigosa para as crianças e a juventude. Como vamos criar uma situação de solidariedade após esse trauma todo? Esse é um desafio que temos que responder e que se relaciona com a necessidade das massas entrarem em movimento para se salvarem do massacre.

A crise atual mostra que não é mais possível continuar o “progresso”, de expansão capitalista, aumentar a produção e o consumo, os recursos não são infinitos. E mesmo que não fossem as contradições internas do capitalismo está à beira do limite como uma bomba a explodir.

A situação é tão grave que o próprio FMI publicou há algum tempo um relatório com o título: “As repercussões sociais das pandemias”. Eles estão preocupados com o levante das massas, é claro que eles jogam a responsabilidade na crise sanitária e não na crise do capitalismo, eles não vão querer reconhecer a falência do sistema. 

O turbilhão de protestos já havia começado na América Latina antes da pandemia, protestos violentos contra o aumento no preço dos combustíveis no Equador sob o governo de Lenín Moreno, manifestações na Bolívia na época da reeleição de Evo Morales, os protestos no Chile que continuaram mesmo depois de concessões do governo, mais de um milhão de pessoas estavam indo às ruas no país que era o modelo do neoliberalismo, onde tudo foi privatizado e todos os direitos retirados dos trabalhadores.

O Chile é o modelo para o governo de Bolsonaro e Paulo Guedes, imaginem, se a situação já está à beira do insuportável sem terminar o plano de privatizações, o que será depois que este governo concluir o trabalho sujo? Teremos convulsão social com certeza.

Na Argentina a situação é horrível também e grandes convulsões certamente vão acontecer, mesmo com um governo peronista, supostamente mais à esquerda, não existe lugar mais para meias medidas, o FMI quer arrancar tudo, e estes governos se tornam pragmáticos em fazer o que é exigido por estes organismos do governo mundial do capital.

Se não agir como um agente do imperialismo, cai.

Até mesmo o Papa Francisco, que está longe de ser um lutador contra o capitalismo, sofre enormes pressões para renunciar, a denúncia foi feita por um líder jesuíta,  Arturo Sosa. O Papa Francisco apenas reivindica o Concílio Vaticano II, que foi um encontro ecumênico da década de 1960 organizado por João XXIII mas que finalizou com Paulo VI. Para atualizar a atuação da Igreja para a realidade.

Um regime político muito duro tem se desenhado em cada país. No Brasil a questão da violência e do abuso de autoridade, tem suas raízes mais profundas no acerto de contas que não foi feito com os torturadores da ditadura militar, foi um processo completamente diferente do resto da América Latina.

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