Opção cultural e geopolítica subserviente aos EUA
O projeto de poder que está por trás do rancor social e obscurantismo que hoje toma o Brasil

Opção cultural e geopolítica subserviente aos EUA

Por Ricardo Guerra

A classe dominante brasileira, que nunca teve pudor em recorrer a vias autoritárias para se manter no poder, não faz objeção (é claro) que seu projeto de dominação possa se dar sob aparência democrática. Dessa forma, as coisas continuam a fluir – como sempre – de forma muito fácil (para eles) e aparentemente menos traumática para a chamada classe média.

Não é a toa que a classe média que, com seu rancor social (ver também aqui), não consegue enxergar os processos que movem todo o jogo de poder geopolítico que dita as diretrizes e a condução da política nacional, apoiou de forma aparentemente velada, ou melhor dizendo – não tão descarada, o golpe militar de 1964 e agora, efusivamente, apoia o golpe jurídico/militar/midiático em curso galopante no país.

Um golpe que estabelece estreita relação com a opção (cooptação) geopolítica e cultural que o comando militar e a nossa “elite” na juristocracia, nas finanças e na mídia, fizeram pelos EUA.

A ascensão de Bolsonaro à presidência, conforme destaca Piero Leirner, não foi mero acidente: “faz parte de um projeto do alto comando militar brasileiro para voltar e permanecer no poder por muito tempo, agora sob os ares de um movimento dito ‘democrático’.”

O denominado “partido militar ou partido fardado”, como representação da nossa “distinta” elite econômica e parcela significativa da alta casta nos poderes do Estado, e não o presidente, é quem dá e sempre deu as cartas no atual governo (ver também aqui). A administração pública encontra-se hoje, toda controlada por militares, inclusive com domínio sobre os orçamentos dos primeiros, segundos e terceiros escalões. 

Os militares não escondem isso, aliás falam e agem abertamente nesse sentido, e de há muito vêm se organizando e se articulando (muito bem) para realizar essa “façanha” de voltar ao poder, após os duros anos da ditadura, quando deixaram o país quebrado (ver também aqui), com uma dívida incontrolável, uma inflação galopante (em altíssimos patamares) e uma absurda concentração de renda e desigualdade social e regional inimagináveis, além dos danos humanitários irreparáveis que causaram para a sociedade – perseguindo e atentando deliberadamente contra a vida de muitos cidadãos brasileiros que consideravam seus opositores.

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No atual contexto político, os militares exercem um relevante papel e atuam como referência na configuração de um projeto de poder de longo prazo em favor de um modelo de desenvolvimento dependente e favorável ao imperialismo e ao grande capital transnacional (ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Tudo segue um roteiro que não poderia ser estabelecido sem o aval do alto comando militar e segue à risca as diretrizes traçadas pelo deep state estadunidense, sob influência de Israel (ver também aqui) – gerenciando a nossa versão tabajara do deep state.

Um projeto de poder que, em futuro não muito distante, visa dispensar a preocupação com governos visto que, o aparelhamento que vêm fazendo na administração pública, tornará governantes e governos meros acessórios figurativos na estrutura administrativa do Estado brasileiro – agora, inclusive, com a permissão (via decreto presidencial) para que militares na ativa possam exercer cargos nos governos por tempo indeterminado.

Já nos anos 2000, sob a batuta de Fernando Henrique Cardoso, o Estado criou um mecanismo para gerar as condições para que esse futuro processo de aparelhamento pudesse ser justificado com a inserção de oficiais das Forças Armadas num processo de habilitação “técnica” para o mundo civil – quando saíssem para a reserva.

Nesse sentido,  foi organizado um curso de Estado-Maior, proclamado de nível similar a um doutorado, e organizaram-se cursos de MBA promovidos por instituições privadas, como por exemplo a Fundação Getúlio Vargas, orientados por uma visão gerencial de Estado ultra neoliberal – nem um pouco alinhados com interesses direcionados para a soberania do Brasil e melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, muito pelo contrário, totalmente organizados com base em preceitos subservientes aos interesses dos EUA e do capital transnacional (ver também aqui).

A ideia era produzir novos quadros para o funcionalismo público brasileiro: “um novo funcionalismo” idealizado para rodar nesse sistema por eles formatado (e devidamente aparelhado). Processo que explica porque e como os militares foram se tornando tão chegados à ideia do Estado mínimo e, nessa perspectiva, também porque se consideram “mais capazes” de administrar o país que os outros funcionários públicos (civis). Dessa maneira, quando o “sistema” estiver funcionando em sua forma plena, poderá rodar em “modo silencioso”, sem que os militares estejam expostos – como ainda acontece na forma caricata que se apresenta o atual governo”, destaca Piero Leirner em “O aparelhamento do Estado pelas Forças Armadas”.

Eu tomo a ousadia de acrescentar às palavras do Professor Piero, a expressão “comandando tudo de forma ‘oculta’ – por trás”. Afinal de contas, eles (os militares) não querem e, em benefício do projeto de poder que abraçaram, não podem, ficar eternamente  vinculados ao “fanfarrão espantalho” que forjaram – para através dele chegarem ao poder na eleição passada.

Processo que se deu por meio de um minucioso trabalho de guerra comunicacional (guerra híbrida), operações psicológicas, propaganda, kompromat, utilização de falsas bandeiras e uma série de outros mecanismos de desestabilização cognitiva dos cidadãos, que visa garantir os militares como a única solução frente ao “caos” – que eles querem nos fazer acreditar, “imperava/impera” no País.

Um dos pontos principais dessa guerra híbrida em andamento no Brasil é que era preciso, em primeiro lugar, usar todos os seus procedimentos internamente para o próprio público militar, como é possível perceber na leitura do livro Carta no coturno: a volta do partido fardado no Brasil: dessa forma, os protocolos de guerra foram e continuam sendo aplicados tanto nas Forças Armadas, quanto por elas.

A partir daí todo o resto veio e virá naturalmente. Um imenso efetivo de procuradores, juízes, policiais e integrantes de outros órgãos e instituições (principalmente na escala federal) vive fazendo cursos na Escola Superior de Guerra, generais costumeiramente falam na Maçonaria, nos Institutos financeiros, nas Federações de comércio e da indústria, e é assim que toda a engrenagem foi e vai sendo forjada, e posta para funcionar quase que automaticamente por sinergia.  

Enfim, os militares criaram todo um contexto no qual, cada vez mais eles seriam vistos como a parte racional e, consequentemente, salvadora do “caos” que fizeram acontecer no atual governo (e antes dele): das “revoluções coloridas” em 2013 a todo tipo de inépcia, leviandade e obscurantismo que hoje tomam conta do planalto central.

Um contexto, onde tanto as falas de Bolsonaro quanto o próprio Bolsonaro fazem parte de um roteiro pensado para dar a ideia de que ele está no comando de tudo e favorece todo esse processo de desmonte dos direitos sociais e entrega do patrimônio público, financeiro e estatal do povo brasileiro – desviando o foco das pessoas das questões que realmente interessam e pelas quais é preciso lutar.

Mas sobremaneira, um roteiro que pretende forjar o surgimento de um sentimento no qual os militares possam figurar – como “num toque de mágica” – como os redentores da pátria, aqueles que vão defenestrar do poder, o “maluco” que está tocando o horror no país: assim, no momento em que acharem mais oportuno, eles assumirão diretamente o comando do Executivo, não mais através de um agente terceirizado.

É para isso que estão construindo a narrativa e costurando, na prática, a tal da terceira via, configurando possibilidades viáveis para a cabeça de chapa dentro do grupo gerado nas suas próprias entranhas, com os quais pretendem aprofundar (ainda mais) esse projeto de aparelhamento e hegemonia militar na administração pública. 

A entrega do campus da Escola de Administração Fazendária – ESAF (instituição que formou gerações de funcionários públicos ao longo de muitos e muitos anos no Brasil) ao Ministério da Defesa, é um dos atos mais representativos desse processo. O local agora será direcionado à formação, especialização, aperfeiçoamento e execução de diversos programas de pós-graduação, tanto para o público militar quanto civil, mas sob as diretrizes determinadas pelo alto comando militar: um estratégico e crucial espaço pensado para a configuração da engrenagem de aparelhamento do Estado em curso.

Em breve, independente de “governo” tudo passará por eles e acabará de vez com a mínima, mas ainda remotamente exequível, possibilidade de pluralismo – que é a própria essência, ainda que hipotética/utópica, do regime democrático.

Diante do exposto, não podemos mais deixar de perceber que todo o entendimento que se tem do que significa ser um regime democrático, sob o espectro de uma guerra híbrida no Brasil – com a oposição totalmente controlada por dossiês e pelo consórcio jurídico-militar, precisa mudar.

Se faz necessário compreender o porquê da esquerda, controlada por todo esse aparato, continua endossando o papel da Justiça, defendendo eleições com urnas eletrônicas sem a possibilidade de serem auditadas e não percebe, ou finge não perceber, esse falso estado de aparência de que as instituições continuam funcionando, e o que está por trás de tudo isso: a geoestratégia norte-americana e suas táticas colonizadoras e imperialistas (ver também aqui).

Pode até ser que, conforme disse ironicamente o Professor Piero, seja porque, como acontece com os jogadores em cassinos, há uma tendência em se acreditar que se pode ganhar da banca e não se percebe que, invariavelmente, é ela (a banca) que sempre ganha.

Mas a realidade, nos alerta Romulus Maya, é que há um novo pacto político que existe de fato, mas não de direito: “uma constituição ‘secreta’ (?), sem texto constitucional, regulando o Estado e os partidos – um quadrunvirato não eleito composto por Militares; Juristocracia; Finança; e Mídia (velha e novas), que constituem, lá de cima, os PODERES que controlam todo o ‘jogo’.”

Portanto, mantendo a analogia feita com o cassino, ao invés de mudar de mesa, a esquerda deveria parar de jogar, denunciar tudo e lutar:

Enfim, “esvaziar o cassino, a ponto da banca ter que negociar diante dos impasses”, como sugere Piero.

Mas a verdade, nas exatas palavras do Professor Mário Maestri, é que a esquerda amarelou e foi cuidar de eleições. Assim, com tudo sob controle, a plutocracia vai efetivando esse seu projeto de poder de longo prazo – com os militares – sem sofrer qualquer esboço de enfrentamento mais contundente.

E a população brasileira, abandonada à sua própria sorte até mesmo pela esquerda que, apequenada, apenas nos conclama a votar e faz tempo que se esquece de lutar pelo Brasil, pelos trabalhadores e pelo povo brasileiro, seguirá morrendo de Covid-19 e de várias outras doenças, e também de desemprego e fome.

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