Se você acha que não dá para lutar, leia a história de Esperança Garcia

Se você acha que não dá para lutar, leia a história de Esperança Garcia

A Carta de Esperança Garcia faz uma fotografia real da experiência humana de homens e mulheres negras que desceram aos infernos da escravidão. O relato chega ao nosso conhecimento a partir da experiência e do olhar de uma mulher negra que, mesmo na condição de cativa, utiliza-se da escrita para se defender da violência do sistema escravagista.

Esperança Garcia (Fazenda Algodões, circa 1751 – ?) foi uma mulher negra escravizada brasileira, considerada a primeira mulher advogada do Piauí.[1][2] Em 6 de setembro de 1770, Esperança enviou uma petição ao então presidente da Província de São José do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, onde denuncia maus-tratos e abusos físicos contra ela e seu filho, pelo feitor da Fazenda Algodões

Esperança nasceu em uma fazenda de propriedade dos jesuítas, onde hoje fica o município de Nazaré do Piauí. Aos 9 anos de idade, quando a ordem foi expulsa do Piauí pelo Marquês de Pombal[2], ela foi levada como escrava para a casa do capitão Antônio Vieira de Couto. Em 6 de setembro de 1770, escreveu uma carta ao governador da Capitania do MaranhãoGonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus-tratos que sofria. Pedia ainda para retornar à Fazenda Algodões e para ter sua filha batizada.[1][2][3]

Fugiu pouco depois, reaparecendo numa relação de trabalhadores da fazenda, datada de 1778, casada com o angolano Ignácio e com sete filhos

A carta de Esperança Garcia é considerada a primeira petição escrita por uma mulher na história do Piauí, o que a torna uma precursora da advocacia no estado[1]. Também é um documento importante nas origens da literatura afro-brasileira[5]. Na data de envio, 6 de setembro, é comemorado o Dia Estadual da Consciência Negra.[6]

Em 2017, o Memorial Zumbi dos Palmares, espaço dedicado à cultura negra em Teresina, foi reformado e reinaugurado com o nome de Memorial Esperança Garcia.[7] No Carnaval de 2019, a Estação Primeira de Mangueira fez uma homenagem a Esperança Garcia em seu samba-enredo “História pra Ninar Gente Grande”

A escrava, subjugada à tortura do corpo, utiliza-se das armadilhas da palavra escrita: das sensações de dor e martírio, das metáforas onomatopaicas, da contundência das imagens visuais e estrondosamente sonoras que representam fenômenos da natureza. A escrita afirma suas bases na fala oral, na fala do povo pouco letrado, na fala gestual do corpo. Esta linguagem da contorção e do flagelo do corpo, do jogo e construção dos relatos da crueldade apresentados em diferentes cenas da escravidão. A narrativa é fragmentada por esses pequenos episódios, como uma teia de aranha que pouco a pouco vai envolvendo o leitor dentro de um mundo vivenciado pelo escravo, que nas palavras de Dionne Brand “é a porta que muitos de nós [a Diáspora Negra] esperavam que nunca tivesse existido” (2001, p.19, tradução nossa).

A “Carta” denuncia e desqualifica o algoz perante a autoridade governamental da Capitania: “…Primeiro hé q. há grandes trovoadas de pancadas enhum Filho meu sendo huã criança q lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço explicar que Sou hú colcham de pancadas, tanto q cahy huã vez do Sobrado abacho peiada;”.

Na Carta, em análise, Esperança Garcia reivindica ainda o direito de cultuar os ritos da religião do branco, já assimilada por ela e as colegas escravas, mas essa religiosidade é também tomada como máscara, autodefesa, dissimulação, uma Negaça* da escrava delatora, que se utiliza, estrategicamente, de pretextos para agravar o delito, o crime praticado por espancamento ou a culpa do administrador da Inspeção de Nazaré, que habitualmente agredia Esperança e os filhos desta.

Os motivos do ódio e da violência não são revelados no relato escrito pela escrava. Não se trata de uma afirmação categórica, mas seria compreensível supor que essas agressões impiedosas tenham sido motivadas ou agravadas pelo desejo sexual recalcado do agressor. A crônica da escravidão é repleta de fatos dessa natureza, da consumação ou tentativa de estupros do senhor contra as escravas. Esperança era casada. Teria a escrava se negado a realizar o desejo luxurioso do administrador das fazendas da Coroa Real? Na época da escravidão, alguns tipos de agressões eram silenciados pela vítima, principalmente as que feriam a moral da escrava. Assim, nos casos de atentado ao pudor da mulher negra e escrava, esta, certamente, preferia o silêncio a tornar público o constrangimento, causado pela tentativa frustrada ou pela consumação de um estupro, ou outro tipo de violência que constrangia o cativo

Livro dos heróis da pátria:

Tramita no Congresso Nacional do Brasil o projeto de Lei nº 3.772, de 2019, para inscrever Esperança Garcia no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, conhecido como Panteão da Pátria

Com a história de Esperança Garcia ficamos como exemplo de que devemos lutar em qualquer circunstância, aconteça o que acontecer, em defesa da justiça e de nossas famílias. Se Esperança tivesse coragem de defender sua família e seus pares, sabendo que não tinha direitos. Nós que esperamos defender o Brasil do massacre brutal que este sistema tem imposto a todas as nossas famílias.

Publicação original aqui

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