Foco Marxista: o precariado (Vídeo)

Foco Marxista: o precariado (Vídeo)

Olá, hoje eu vou continuar falando de um tema que eu já falei, mas eu ainda pretendo fazer outros vídeo a respeito que é a questão do precariado. Em dois mil e quinze, eu li um livro de um autor inglês, professor da Universidade de Londres, Gui Standin, ele escreveu o precariado, a nova classe perigosa.

Bem, já são quase dez anos, não? Oito anos que esse livro foi escrito, eu li em dois mil e quinze, quando ele foi traduzido para o português aqui no Brasil. Esse livro, eu acho que ele traz dados relevantes, “cê” não precisa de concordar com as análises e nem os prognósticos dele, mas ele trouxe naquela época, pelo menos pra mim, dados interessantes. Ele começa um relato ali sobre o primeiro de maio de dois mil e um, quando cinco mil pessoas (estudantes, jovens ativistas dos movimentos sociais) pretendiam fazer um ato em Milão de dois mil e cinco, primeiro de um de maio de dois mil e cinco que pudesse contar com a participação desse pessoal que estava ali ou no subemprego, desempregado, sem garantias nenhuma, etcétera. Eles conseguiram reunir em dois mil e um, cinco mil pessoas no máximo nessa passeata e nesse ato.

Em dois mil e cinco eles já eram cinquenta mil que participavam, ou seja, já não eram qualquer coisa, aqui no Brasil quando se tem aí uma manifestação com três mil, quatro mil, fazendo os atos que nós tamos vendo agora do Fora Bolsonaro, pessoal já tá impressionado, né?

Com o número, trinta mil pessoas. Esse pessoal se reuniu e começou a fazer essas passeatas, eles se opunham ao sindicalismo tradicional que já faziam seus atos tradicionais ali e não tocavam em temas que interessavam a esses trabalhadores. Os imigrantes começaram a engrossar as fileiras e se tornaram parte substancial nessas manifestações do precariado. Eles iam as ruas, no entanto como acontece até hoje, eles não tinham uma agenda muito clara, não muito bem formada ou uma agenda muito diversificada, não era fácil e não continua sendo fácil entender quais são as reivindicações do precariado. Então o precariado são esses trabalhadores, pelo menos na concepção que surgiu na Itália, esses trabalhadores temporais, sazonais que tem tanto uma dificuldade de amparo em relação a empresa quanto em relação ao Estado.

Outra conclusão importante que ele chega, o Gui Standin, é que o uso de novas tecnologias de informação estão no hábito desse precariado, entendendo as como novas formas de reprogramação do cérebro. A vida digital ou virtual estaria destruindo o processo de consolidação da memória a longo prazo. Então, ele diz que as redes sociais estariam fortalecendo vínculos frágeis de sociabilidade e enfraquecendo vínculos fortes, como são as redes familiares, trabalho coletivo, etcétera. Reprimidos esses trabalhadores estariam reprimidos num presentismo interminável e desistoricizado. Ou seja, o precariado tem uma dificuldade de construir um senso de memória social. “A mente precarizada” é alimentada pelo medo, já que falta essa ocupação laboral que criaria um vácuo ético entre esse sujeitos. A angústia anônima, na era do precariado, destrói todos os eventuais laços de confiança e solidariedade.

Bem, o modelo liberal, imperando aí por mais de trinta anos nas três, já quase quatro últimas décadas, promoveu como principal slogan a ideia de que o desemprego é meramente uma questão de responsabilidade individual, ou seja, os seres humanos passaram a ser mais ou menos empregáveis, não por acaso a ideologia das competências e habilidades ganhou o corpo em processos de escolarização, na educação básica, reformando os hábitos e as atitudes da classe trabalhadora. Esta é uma forma perversa de culpar e demonizar o desempregados como preguiçosos e parasitas sociais. Já que haveria oportunidade para todos.

A mercantilização da educação em todos os seus níveis produz um inflacionamento de diplomas supersimplificados para os trabalhadores supersimplificados passam a predominar o extrem school, a classe aceita ao engajamento político com pouquíssima adesão sindical avessa a regimes democráticos. Apesar da participação desse precariado nessas manifestações a partir de dois mil e um que ficou conhecida como Euro may day, a grande maioria do precariado na verdade não participa. Vivem no medo e na insegurança. Eles podem tanto pra extrema direita como pra extrema esquerda.

Sobre a questão dos imigrantes, principalmente na Europa, na região e na cidade de Prata, na Itália, uma região da Toscana em mil novecentos e oitenta e nove começaram a chegar os chineses. É uma região de indústria têxtil, em dois mil e oito, os chineses já tinham quatro mil e duzentas pessoas registradas e quarenta e cinco mil imigrantes naquela cidade. Eles em um ano produziram roupas que dariam para o mundo inteiro durante vinte anos. As empresas italianas que já haviam iniciado o fechamento de suas portas com importação de produtos e principalmente de tecidos chineses aprofundaram ainda mais o seu contingente de trabalhadores registrados. Portanto, muitos desses trabalhadores italianos foram para o trabalho informal.

Quando veio a crise financeira, várias fábricas de fato fecharam completamente as portas. E a chamada Liga do Norte, um agrupamento político de extrema direita veio varrendo tudo que fosse parecido com esquerda. O primeiro ministro, Silvio Bernusconi, falou em derrotar o exército do mal, ou seja, os imigrantes. A formação de vários inclaves foi notável. Formaram-se gangues de chineses, de russos, albaneses, nigerianos, romenos, além da própria máfia. Então, na medida em que as empresas que trabalhavam com trabalho semi-escravos, foram se espalhando pela região, os próprios italianos saíram do seu papel de trabalhadores formais e proletários e foram engrossar as fileiras desse precariado. As consequências políticas disso aí já eram previsíveis e se tornaram a realidade com crescimento da ultra direita. O que aconteceu em Prato foi a consequência da chamada globalização do capital, ou melhor a consequência da aplicação da regra do neoliberalismo, o ultra neoliberalismo.

O Partido comunista italiano, é de conhecimento do senso comum, nunca quis derrubar o capitalismo, é um partido que lutava por reformas, pequenas reformas, muito mais parecido com os partidos socialistas da Escandinávia. No final dos anos de mil novecentos e setenta, um pequeno grupo de neoliberais percebeu que suas opiniões estavam sendo ouvidas. Eles não gostavam do Estado ou melhor, das intervenções regulatórias do Estado na economia. Para eles, o mundo deveria ser um lugar cada vez mais aberto, onde o investimento, o emprego e a renda fluiriam para onde as condições fossem mais receptivas. Eles encontraram políticos que incorporaram suas ideias como Margareth Tatcher, na Inglaterra e Ronald Regan nos Estados Unidos. Trinta anos seguiram de neoliberalismo pelo mundo. A social democrática Caiu de joelhos diante da pregação neoliberal. Não houve praticamente resistência.

Na década de mil novecentos e oitenta a moda era a flexibilização, principalmente a flexibilização do mercado de trabalho que implica em flexibilização salarial, jogar os salários pra baixo, tentar nivelar o máximo pra baixo, flexibilização de vínculo empregatício, ou seja, facilitar as demissões da empresa sem muitos ônus, sem pagar, sem fazer um acerto como tradicionalmente se fazia. Flexibilização de habilidades criando um trabalhador multifuncional, faz tudo. Por isso foi criado entre os trabalhadores uma enorme insegurança. Uma massa de trabalhadores precarizados cresceu enormemente. Sem empregos estáveis, sem horas fixas, sem planos de carreira, sem sindicatos e sem acordos coletivos. Esse contingente não tinha uma identidade que os fizesse uma classe para si, nas palavras de Marx, conforme Marx escreveu. Eles tem uma relação de confiança mínima com o capital e com o Estado.

Diferentemente da situação anterior do proletariado, os precarizados, entre eles, não há mais nenhuma garantia para que pudessem oferecer, vamos dizer assim, uma subjetividade ou uma relação de subordinação. Eles praticamente não tem poder de barganha de negociar.

O precariado japonês está na base da hierarquia de status no Japão. O que lhe impede acesso a gratificações e sua renda está muito abaixo da média. No Japão, portanto é basicamente chamado de precariado um trabalhador pobre, mas tem um nome, uma junção de duas palavras do inglês do alemão. Eles são chamados de Freeteris. Na França é o termo precariado significava ainda nos fins dos anos de mil novecentos e setenta os trabalhadores temporários e sazonais. Na Itália as pessoas que fazem tarefas casuais e com baixa renda. Na Alemanha, além de trabalhadores temporais são os desempregados que não tem nenhuma esperança a mais de integração ao mercado de trabalho e até de integração Social.

Bem, pra finalizar já essa primeira parte sobre o precariado, essa discussão toda que eu tô apresentando a partir do livro de Gui Standin, eu quero voltar um pouco a realidade do Japão. Desde a década de mil novecentos e noventa, uma “nova classe” vem crescendo no Japão, são chamados, que eu citei agora a pouco, os freeteris, um acrônimo de free em inglês e abaita em alemão uma mistura dessas duas lindas línguas, que pode ser traduzido como trabalhadores livres ou freelanceres, que abrange principalmente os jovens entre quinze e trinta e quatro anos.

A mídia e o próprio governo tentam mostrar que esses jovens “rejeitaram”, conforme eu li no artigo em uma revista, eles rejeitaram o trabalho formal. O emprego vitalício como existe no sistema japonês. Essa nova classe trabalhadora com baixa remuneração e de tempo parcial surgiu especialmente em razão da bolha econômica dos fins dos anos de mil novecentos e oitenta. Essa é a realidade.

O Japão dizia-se um país de classe média e ele começou a ver essa situação, de uma certa forma comprometida. Este problema é principalmente agravado pela falta de segurança no emprego, que por sua vez tem causado o aumento dos casos de depressão, violência doméstica e altos índices de suicídio naquele país. Durante o primeiro mandato do ministro japonês que assumiu o cargo em dois mil e um a dois mil e seis, o número de pessoas que trabalham em empregos regulares caiu um vírgula nove milhões, enquanto o número de freeters subiu para três milhões.

Os freeters não iniciam a carreira após o ensino médio, durante ele ou mesmo na universidade. Ganham em dinheiro empregos de baixa qualificação e baixa remuneração. Uma parte deles, segundo ainda dados encontrados em matérias, de revistas, jornais, outros são a sobra do recrutamento amplo que as empresas fazem durante o ensino médio ou na faculdade. Os freeteres tem problemas em ter uma casa, em ter uma carreira, em ter uma saúde e uma previdência, muitos deles vivem em cubículos ou até mesmo em cybercafé. Se essa realidade triste que o sistema, o neoliberalismo, o capitalismo levou esses trabalhadores em países desenvolvidos como no Japão, imaginem a situação de insegurança, de incertezas e de sacrifício que vivem, os trabalhadores precarizados em países como o Brasil.

Próximo vídeo, eu vou continuar com o assunto é um tema muito importante pra nós entendermos, porque a direita tem se aproveitado dessa situação pra impor políticas cada vez mais caóticas no Brasil, nos países da América Latina ou onde quer que seja que o imperialismo tenha interesses econômicos. Até a próxima.

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2 comentários em “Foco Marxista: o precariado (Vídeo)”

  1. Esclarecedor por demais esse texto. Por ele faz nos entender que quanto mais o capitalismo entra em crise, mais a classs trabalhadora no mundo inteiro é precarizada, para manter as taxas de lucros deste sistema decadente e perverso.

    Responder
  2. no ultimo paragrafo:
    “porque a direita tem que ser aproveitado dessa situação”
    vc realmente quis dizer
    “porque a direita tem se aproveitado dessa situação”

    Responder

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