7 de Setembro de 2021: Com que roupa eu vou?

7 de Setembro de 2021: Com que roupa eu vou?

Escrito por: Marchesano

Falta o grande plano Cohen para que o regime político brasileiro possa encontrar uma saída efetiva pelo alto e assim fechar-se completamente. A saída pelo alto sempre foi a marca dos representantes do imperialismo no Brasil. 

O dia 7 de setembro de 1822 marcou o início bonapartista no Brasil. Com vistas a evitar a perda do poder político, D. João VI disse ao seu filho – “Tome a coroa, antes que algum aventureiro lance mão dela”

Entre os anos finais do século XVIII e os anos iniciais do século XIX a Coroa portuguesa e a elite colonial escravocrata viveram tempos atordoantes. A senzala estava em rebelião; o ouro mineiro despertou o espírito jacobino nas províncias de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco; Portugal estava numa profunda crise política e econômica e a América Latina ardia com o avanço dos processos de independência. A única saída para a crise e para o medo foi o golpe de 1822, que consistiu necessariamente em eliminar as massas do processo político decisório e proclamar Dom Pedro I como o Napoleão dos Trópicos.

Seguindo os passos do golpe inaugurado em 1822, temos a sua continuação em – 1840 (golpe da maioridade); 1888 (o golpe da caneta da princesa Isabel); 1889 (o golpe republicano); 1930 (o golpe de Vargas); 1937 (Estado Novo); 1945 (o golpe democrático); 1961 (o golpe do parlamentarismo); 1964 (golpe empresarial-militar); 1988 (o golpe da democracia vertical); 2016 (golpe institucional); 2018 (golpe eleitoral); 2020 (golpe viral) e 2021 (com que roupa eu vou?).

A tele-novelização da política interpretada pelas bases bolsonaristas e o STF não está alcançando os picos de audiência desejáveis. A população parece não aderir nem de um lado nem de outro. A trama que ora prende alguns, ora convida outros a se explicarem para a Polícia Federal por falarem mal dos super-ministros não eleitos do STF não está nada convidativa aos olhos dos espectadores. Nada parece emplacar nessa trama. A prática golpista encontra-se saturada, o enredo mal escrito e os diretores desacreditados. Estes, no entanto, estão partindo para o tudo ou nada. Começaram a ensaiar a morte de parte da própria carne. Nada melhor para criar um efeito catártico no espectador do que crimes em família. A trama de Hollywood baseada em mocinhos e vilões não convence mais ninguém.

Como se não bastasse as enormes quedas de audiência, leia-se ‘credibilidade’, da trama política, o dia sete de setembro foi construído como o dia do resgate da soberania de um país sem autoridade e de uma democracia sem povo. Algo semelhante aos golpes pregressos? NADA DE NOVO NA TERRA DO SOL.

Para apimentar o enredo, no último dia 6 de setembro, Márcio Giovani Niquelatti, conhecido como prô Marcinho, foi preso, a pedido da parceria PGR/Alexandre de Moraes, pela Polícia Federal. O professor Marcinho ficou conhecido depois de uma chamada virtual realizada por Maria Teixeira Martins em sua conta no Tik Tok. A chamada contou com a participação de 20 míseros participantes, entre eles o prô Marcinho, mas que acabou ganhando repercussão nacional e resultando em um mandado de prisão.

Na chamada o ‘prof’ Marcinho diz o seguinte –

“A partir de hoje temos um grupamento que nós vamos caçar ministro (do Supremo) em qualquer lugar que eles estejam. Portugal, Espanha, China, onde eles estiverem. Tem brasileiro já sabendo já. […] Depois dessa eu fiquei sabendo, hein, que acabou. Acabou a situação, a partir das arbitrariedades de hoje à tarde. […] Não vou falar agora quem é, pode me torturar, mas tem um empresário grande que tá oferecendo, tem até uma grana federal que vai sair o valor pela cabeça do Alexandre de Moraes. Vivo ou morto, pra quem trazer ele. Então, o Brasil demorou mas aconteceu”.

Observe, talvez o professor não esteja a par da Lei subterrânea do Escola sem Partido, mas nós PROFESSORES estamos. Qual a utilidade de a mídia hegemônica frisar tanto à prisão de Márcio Giovani Niquelatti chamado pela alcunha de ‘professor Marcinho’? Sabemos que os ataques proferidos a Alexandre de Moraes fazem parte da trama entre STF e Bolsonaro e suas bases, porém a alcunha ‘professor’ não. Isso é um elemento novo, e pode espirrar em toda a categoria docente que vem, ainda que com muito vagar, organizando-se para expressar uma tendência de luta.

Em continuação, com a palavra ‘prô’ Marcinho:

Agora no Brasil, o ministro do Supremo vai ser assim. Vai (sic.) ser assim, vai ter prêmio pela cabeça deles, tá certo? […] Não é questão de esquerda e de direita. Tá?(sic.) Não é contra Lula, não é contra ninguém. É contra a soberania brasileira voltar a ser o que era. Entendeu? Porque a esquerda acha ruim. Tem gente de esquerda que acha ruim, mas eles esquecem que os narcotraficantes que eles liberaram tá lá vendendo droga na porta da escola para o próprio filho, de esquerda, de direita, independente de quem for.

Veja o que a mídia convencional não diz. Marcinho salta de um assunto a outro de modo nonsense, pelo menos na aparência. O professor Marcinho fala da arbitrariedade do STF, da soberania brasileira e da não identificação de sua causa com a esquerda ou direita. Entretanto, para o ‘prô’ Marcinho a esquerda é culpada por libertar narcotraficantes para ficar na porta de escolas vendendo drogas aos filhos da ‘sociedade’.

Seguindo o pensamento do prô Marcinho vemos que ele aponta para a existência de milícias espalhadas em diversas regiões do Brasil. Diz ser ele um dos organizadores de tal empreendimento – “E por isso que o corrupto, nós vamos começar a caçar. Cada um já tem um “grupamento”, nós vamos caçar cada um em seu estado. Desde vereador a prefeito. O pau vai cantar parelho. Não vai ter mais molezinha”. Reafirma, em mais de uma oportunidade, que a questão a ser combatida é a corrupção presente na política. Maria ao perguntar para Marcinho: “eles vão limpar o Congresso também, Marcinho?” Marcinho responde: “Vai. Todos. Todos. A maioria dos políticos nós já temos uma ficha, um dossiê guardado. De quem tem, cara que até multa de trânsito, pedofilia, tem vários processos tramitando nos tribunais”.

O prô Marcinho está certo quanto aos dossiês, mas estes não foram feitos por ele e nem estão ao seu alcance. Quem está no controle da situação é o General Heleno, exercendo o papel de poder moderador no subsolo da política. Heleno está guarnecido pelas informações transmitidas pelos EUA. ‘Professor’ Marcinho diz que vai matar, caçar, eliminar os corruptos e os decanos do STF em nome da Soberania do país. Terrorista? Ele diz não ser a favor nem de esquerda nem de direita, mas assim como Lemann e Luciano Huck, Marcinho é a favor de gente boa.

Alguns youtubers bolsonaristas ao comentarem sobre a situação de Marcinho, se posicionaram dizendo se tratar de um infiltrado de esquerda querendo semear a desordem no reino da paz e da verdade. E que as únicas coisas desejadas pelos bolsonaristas, além da compra de armas em prejuízo do feijão, é a paz e a desejada liberdade de consciência e expressão. Nesta cena todos apelam à Constituição Federal, e neste caso não foi diferente com Bolsonaro, que em sua conta no Twitter colocou: “Independência está associada à LIBERDADE. Assim sendo, também no escopo dos incisos XV e XVI, do art. 5° da nossa CF, a população brasileira tem o direito, caso queira, de ir às ruas e participar dessa nossa data magna EM PAZ E HARMONIA”.

Esse apelo se deu momentos depois de Bolsonaro postar que Há exatos 3 anos tentaram me matar. Agradeço à Deus pela sobrevivência. Hoje, se preciso for, a vida pela liberdade”. Nada melhor para uma novela que a apresentação de uma mentira. Depois de Bolsonaro defender a ‘vida’ e a ‘liberdade’, o jornal Estadão, acompanhado de outros inúmeros jornais da mídia hegemônica e das mídias alternativas ambidestras, disse: “Na visão desses magistrados, a depender do que acontecer e o tom adotado por Bolsonaro em seus discursos, os atos de 7 de setembro poderão fornecer ainda mais provas contra o chefe do Executivo. O entendimento prévio é de que, uma vez configurado algum crime, o presidente poderá ter sua candidatura negada pela Justiça Eleitoral no ano que vem”.

Quem, além do psdbista Alexandre de Moraes, poderia aparecer como o grande redentor da humanidade?

Alexandre de Moraes, by Revista Veja, mandou um recado aos ‘aloprados’ – “O recado do ministro é claro: protestar é próprio da democracia, tudo certo. O que não está certo, e é passível de prisão, é usar esse direito para pedir o fim da democracia e atacar instituições inclusive com ameaças de violência”. Agora o jogo ‘tá’ começando a ficar compreensível. Os aloprados da Revista Veja não são as bases bolsonaristas, e sim aqueles que atacarem as instituições burguesas. Parece ser essa a regra que está por trás do Projeto de Lei 1595/2019 que permitirá ações ‘contra’terroristas contra todos os possíveis insurgentes e detratores. 

Democracia no Brasil não é soberania popular. É a defesa do conjunto das instituições de Estado que pertencem à burguesia. Em última análise, atacar as instituições ‘democráticas’ pode ser considerado como sinônimo de atacar a burguesia consolidada no mando do Estado através de suas instituições. O regime político no Brasil é uma a-democracia. Uma soberania do não-povo.

O raciocínio é o seguinte: tudo o que atentar contra a democracia e as suas instituições é passível de prisão. Todos que atentarem contra a ordem estabelecida estarão ultrajando o estado burguês, as respectivas instituições e a lógica de acumulação. Logo, todos os que assim procederem serão classificados como TERRORISTAS, ganhando como sorte a PENA CAPITAL. Nunca houve no Brasil golpe contra a democracia, o golpe foi sempre proferido contra a classe trabalhadora. Todos os golpes acima citados tiveram como único intento: combater o avanço das massas.

Segundo o antropólogo, Piero Leirner, o fechamento do regime, no dia 7 de setembro, poderia ser costurado por duas vias: 1. Sara Winter 2.0; ou 2. Capitólio 2.0

[…] se 7 de setembro será Sara Winter 2.0 ou Capitólio 2.0. Um é contínuo ao outro, e ambos são parte do “movimento de pinça” que vai envolver todos os cenários. No primeiro caso é a extensão do padrão semanal que estamos observando, com mais tempo para banqueiros, Globo, juízes e CIA se adaptarem ao “little regime almost-changed” (porque o “big one”, “takeover”, já foi). Aí, quem sabe, a CPI bota a luz em alguma “corrupção” que chegue diretamente na Fiat Elba do Bolsonaro, com direito a fritar Pazuello e alguns coronéis. É da vida, “cabeça de ponte” serve para isso mesmo, e aí ninguém vai mais dizer que o EB “não corta na própria carne” (sei…)… Essa solução ainda deixa muitas arestas, por isso acho que se algo mais definitivo estiver na cabeça dessa gente, deve-se pular para o parágrafo seguinte. No segundo caso, o Capitólio 2.0 (com a vantagem de “confirmar” que Bolsonaro é só uma imitação “bananeira” de Trump), a “intervenção” segue o caminho oposto. Imaginem o STF – sim, ele mesmo! – pedindo, com base no Artigo 142 (“…defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”…), o acionamento das FFAA para conter os aloprados que resolveram “invadir” prédios públicos (a maluca do posto de gasolina agora é um macho-alfa com boina)…. A caneta de quem aciona? Não é a de Bolsonaro? E se ele não acionar? Não é aí a porta de entrada para, finalmente, o “impeachment”? E quem sai como “Força que agiu nos parâmetros da Democracia”?

O golpe pode ser costurado por uma das duas vias acima sugeridas. No entanto, o que o antropólogo parece perder de vista é o motivo do fechamento do regime político. Parte da explicação foi revelada no último dia primeiro de setembro com a divulgação dos dados sobre o recuo do PIB no segundo trimestre de 2021 pelo IBGE. Paulo Guedes, o responsável pelo voo da economia submarina brasileira, argumentou: “que o PIB do segundo trimestre de 2021 ficou estável no período mais trágico da pandemia”. O desempenho da economia brasileira no segundo trimestre do ano foi puxado para baixo pelo resultado do agronegócio, que caiu 2,8%, e da indústria, que recuou 0,2%. 

Não há trabalho. Não há comida. Há inflação e desemprego. Em outras palavras, CRISE. 

O regime político brasileiro precisa urgentemente ser fechado devido ao avolumamento da crise econômica que mais cedo ou mais tarde levará as massas para as ruas. Entretanto, o regime não consegue encontrar as chaves para o seu fechamento pelo mesmo motivo. 

A miséria presente no seio dos trabalhadores brasileiros não está permitindo o fechamento do regime político e a sua consolidação. Não há consenso na sociedade. É diante desse mote que as bandeiras da extrema-direita, da direita dita liberal, das esquerdas identitária, nacionalista e reformista fracassarão em seus propósitos. 

Há uma crise generalizada em todo o sistema capitalista. Alejandro Acosta, ao analisar a economia dos EUA, apontou: “Enquanto a economia nos Estados Unidos caiu 6% (oficial) e o endividamento generalizado disparou, a inflação foi de 1,5% para 5,5%. E tudo para cima. ESTAGFLAÇÃO. Enquanto os quatrilhões da especulação financeira continuam crescendo qual uma bola de neve atômica”.

Com o crescimento da CRISE em escala mundial, o terrorismo das massas tende a vir para as ruas. O terrorismo atentará contra a a-democracia ou democracia sem povo e contra as instituições, sinônimos de burguesia. É da classe trabalhadora que a burguesia tem medo. É esta que o antropólogo estruturalista não consegue enxergar em suas análises. A crise trará a força das massas para as ruas junto com todas as suas demandas e bandeiras de luta. O elemento a ser destacado é: a maré revolucionária a se levantar virá desvinculada de suas antigas direções partidárias e sindicais que nada mais fizeram do que trair a classe trabalhadora na mais profunda crise do capitalismo.

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