A crítica concreta e ideológica das teorias pequeno-burguesas representa um dos aspectos fundamentais da luta revolucionária. O debate sobre o socialismo pequeno-burguês tem como objetivo principal esclarecer os militantes revolucionários e representa um aspecto central da luta pela construção do partido operário revolucionário.
Hoje, estão em voga nas universidades as chamadas teorias sobre “as opressões”, num movimento que é imposto a partir das universidades norte-americanas que são financiadas pelas fundações ligadas aos monopólios.
O marxismo se opõe a essas teorias reacionárias e conservadoras e considera a crítica concreta e ideológica das teorias pequeno-burguesas como um dos aspectos fundamentais da luta revolucionária.
É preciso analisar o processo político relacionado, mostrando a natureza e a origem, e avançar na crítica ideológica, já que se trata da crítica às ideias com as quais as pessoas representam o movimento real.
Em 2004, Thomas Frank, um historiador norte-americano que estuda a relação entre a política e a cultura, publicou um livro com o título “Qual o problema com o Kansas? Como os conservadores ganharam o coração da América”.
Nele, o autor aponta que a raiva da classe trabalhadora de alguma forma foi desviada das questões de emprego e distribuição de renda para questões sociais como o aborto e o casamento gay. Frank não estava preocupado com a luta de classes. Como um acadêmico ele estudava o mercado eleitoral e como os conservadores do Tea Party afinavam um discurso que se desviava das questões econômicas para angariar votos entre a população mais pobre.
Apesar de toda a verborragia o Tea Party tinha como objetivo menos Estado (o que equivale a menos serviços públicos para os trabalhadores), menos impostos (para os ricos) e mais liberdade de especulação; enfim, a velha fórmula “neoliberal”. A agenda política carregada de moralismo tem como objetivo direcionar a esquerda pequeno burguesa para discursos radicalizados em favor dos “oprimidos”, sem considerar que a base material dessas “opressões” é o próprio capitalismo e que sem vincular essas lutas à derrubada do capital é impossível resolve-las. Além disso, se trata de uma política divisionista porque impede a união de todos os oprimidos contra o capitalismo.
Luta cultural no lugar de luta de classes
A “luta cultural” é transformada pela “teoria das opressões” no centro e a luta de classes é apenas algo para se falar nos feriados com o vocabulário da Teoria do Discurso, pós-moderno, pós-estruturalista, pós-crítica etc. As análises “totais” foram abandonadas porque não teriam a capacidade de analisar os novos contextos de efervescência das “novas” identidades e “novos” atores sociais (negros, periferia, mulheres, verdes).
Foucault se tornou a sensação e Pierre Bourdieu o senhor mais citado nos textos acadêmicos, ninguém sabe ao certo porque mas eles passam ao panteão da esquerda pequeno burguesa. E temos o campeão de vendas Zygmunt Bauman, que enveredou pela teoria das identidades.
O movimento estudantil foi cooptado pela burocracia universitária e, por esse motivo, aparece a defesa encarniçada da política de que os professores devem controlar a universidade. A luta política coloca a necessidade dos revolucionários terem um programa contra a universidade burocrática; contra a corrupção das bolsas e do financiamento da educação pelos grandes capitalistas.
A adaptação da esquerda pequeno-burguesa à ala “democrática” do imperialismo tem como origem Ferdinand Lassalle (o pai do socialismo oportunista moderno) e Proudhon (o pai do anarquismo).
A luta real é transformada numa luta secundária e por palavras.
Ao invés da luta pelos interesses da classe operária é colocado em primeiro plano o feminismo burguês, o vegetarianismo, a “contra-cultura” e o anti-racismo. Ou seja, as lutas contra as opressões se põe em busca do acolhimento entre categorias, e o reconhecimento e respeito entre diferentes. Por isso, se fala tanto em horizontalidade. Por outra parte, na teoria da luta de classes, o objetivo é destruir a burguesia enquanto classe exploradora.
A teoria revolucionária da luta de classes combate a opressão para matar o mal pela raiz enquanto da luta contra as opressões fica podando a planta. A “anti-homofobia” transforma a maneira sobre como fazer sexo no centro da luta da classe operária. A suposta luta contra o racismo e o machismo é transformada em luta pela linguagem, onde algumas palavras passam a ser proibidas e até punidas pelo estado burguês.
Teóricos burgueses como Habermas teorizaram sobre “dialogar com as massas”, onde as palavras adquirem uma importância crucial. Com o chamado pós-modernismo, surgiu a teoria da “desconstrução” com Deleuze, Guatarri e cia.
Nos locais onde não atuam os partidos da esquerda pequeno-burguesa, como o Psol e o PSTU, para impôr essas ideias, aparece a direita com o mesmo discurso. Estão todos afinados com o Tea Party?
As teorias “das opressões”
No final da década de 1950, surgiu uma tendência ideológica que viria dar origem à chamada “contra-cultura”. Uma boa parte do trotskismo foi influenciada pela corrente intelectual anarquista Escola de Frankfurt.
Os movimentos estudantis de 1968 eram lutas contra essa ditadura, contra o estrangulamento da capacidade de pensar e, portanto, contra a burocracia universitária. A Escola de Frankfurt foi impulsionada ao primeiro plano, e com Marcuse, para quem a técnica era o principal fator de dominação e, portanto, o cientista, o sujeito chave para a transformação social, sustentava pérolas ideológicas como que a revolução deveria ser a mudança cultural e biológica do ser humano.
A teoria absolutiza a Teoria dos Instintos de Freud, que considera que a civilização é formada sobre a repressão aos instintos. Marcuse apoiou os estudantes em 1968, mas o restante desses intelectuais burgueses se posicionou radicalmente contra, inclusive rotulando-os de fascismo de esquerda. O mesmo papel cumpriram o estruturalismo e o pós-estruturalismo.
Essas teorias requentadas deram origem às teorias “das opressões” nas universidades norte-americanas, que são dominadas pela burguesia imperialista. Um setor da burguesia vendo que não dá para dominar a intelectualidade burguesa na base da religião, impulsionou o controle por meio de teorias mais elaboradas.
A burocracia impõe essa ideologia por meio dessa estrutura de poder burguesa e passaram a fazer parte da ideologia do estado, da mesma maneira que tinha acontecido na época de Karl Marx com o hegelianismo.
A luta entre a ala esquerda e direita da burocracia universitária não passa de concorrência, uma luta dentro do estado, dentro da burocracia estatal, para que a própria ideologia predomine. A maioria dos professores na rede estadual é abertamente conservadora ou de direita.
Todos os mecanismos ideológicos podem ser usados em benefício de uma determinada ideologia.
Quando a burguesia faz algo, se apropria como um método de dominação. O estado democrático, por exemplo, tem uma dívida enorme com o nazismo, que foi derrotado, mas tudo o que a burguesia achou importante, incorporou. A burguesia tomou como experiência adquirida, e formou o aparato repressor. O mesmo pode ser dito sobre os métodos para controlar o movimento operário por todas as ditaduras na América Latina ou contra o movimento colonial na África.