Anistia irrestrita a criminosos de guerra e a crise econômica está na base dos diversos conflitos e manifestações que vêm ocorrendo na Guatemala.

GUATEMALA EM CONFLITO

Marcos W. Lima

Marcos W. Lima

Professor

Analises dos conflitos no Guatemala 

A Guatemala parece ser um lugar bastante violento, nunca fui lá, mas pelo que leio no noticiário do país e em jornais de outros países uma vida lá vale muito pouco. Líderes sindicais e camponeses são mortos sem pensar nas consequências porque elas praticamente não existem.

Para piorar o índice de violência o Congresso promete votar esta semana um projeto de lei complementar à Lei de Reconciliação Nacional,  em que perdoará todos aqueles que cometeram as piores atrocidades durante a guerra civil que durou 36 anos, de 1960 a 1996, período em que mais de 200 mil pessoas foram mortas ou desaparecidas.

Steven Spielberg produziu um documentário importante para levar um pouco de luz a tamanha barbárie na Guatemala, “Finding Oscar” (“Encontrando Oscar”, na tradução literal), onde contribuiu para a busca da verdade e na luta contra a impunidade na Guatemala.

O drama está centrado no personagem Oscar Ramírez, um menino que sobreviveu em 1982 ao assassinato da sua mãe, suas cinco irmãs, seus dois irmãos e dos 200 habitantes do seu povoado, Las Dos Erres, nas mãos de “kaibiles”, uma força especial do exército treinada por militares americanos para combater o comunismo. Oscar, prova viva da participação do governo no massacre, só descobriu a verdade em 2011, quando já tinha mais de 30 anos.

Os grandes beneficiários dessa lei de anistia são os militares que cometeram mais de 90% dos assassinatos apoiados pelos Estados Unidos.

Ele vem depois de uma grande pressão do povo guatemalteco que fizeram várias organizações e manifestações em busca de justiça. Justamente quando alguns criminosos estavam sendo condenados por um sistema judiciário ainda fraco, mas agora com um pouco de apoio da população vinha ganhando uma força relativa e começava a atingir o alto escalão das forças armadas.

 

Efrain Rios Montt

 

Efrain Rios Montt

O mais notável foi o julgamento de 2013 contra o ex-ditador General Efraín Ríos Montt, considerado culpado de genocídio e crimes contra a humanidade contra a população Maya Ixil e sentenciado a 80 anos de prisão, e seu chefe de inteligência militar, General José Mauricio Rodríguez Sánchez, que foi absolvido. 

O projeto de lei ressurge justamente quando Luis Francisco Ortega Menaldo, um ex-oficial de inteligência militar relacionado a Manuel Callejas y Callejas – fundador da rede de crime organizado Cofradía – e um dos quatro oficiais militares que foram condenados em 2018. Outros congressistas são apoiadores de Otto Pérez Molina, o ex-presidente que em 2015 foi forçado a deixar o cargo e que atualmente está sendo julgado por corrupção.

Essa anistia irrestrita a criminosos de guerra e a crise econômica está na base dos diversos conflitos e manifestações que vêm ocorrendo na Guatemala. Caso aprovado a Justiça não existirá e as vítimas que sobreviveram e as testemunhas que tanto lutaram pela condenação dos culpados estarão novamente na mira de perigosos assassinos pagos com o dinheiro do Estado.

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