Eleições Legislativas Venezuela 2020: resultado e impactos (para toda a A.L.)
A diferença da fraude escancarada que acontece no Brasil ou nos Estados Unidos, os métodos principais do “chavismo” para controlar as eleições não passam pela fraude na urna eletrônica.

Eleições Legislativas Venezuela 2020: resultado e impactos (para toda a A.L.)

De acordo com os resultados oficiais publicados pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), o GPP (Grã Polo Patriótico), liderado pelo partido do Governo, o PSUV, obteve quase 70 % dos votos válidos. O abstencionismo superou os 60%. Em 2015 tinha sido um pouco maior que o 25%.

Houve fraude?

A Venezuela usa urnas eletrônicas, mas sempre usou também o voto impresso.

A diferença da fraude escancarada que acontece no Brasil ou nos Estados Unidos, os métodos principais do “chavismo” para controlar as eleições não passam pela fraude na urna eletrônica.

Estas eleições foram controladas por métodos tradicionais.

Em primeiro lugar, houve o controle dos partidos que não estavam dispostos a fazer um acordo com o Governo

O CNE, em junho de 2020, retirou o controle do Partido Ação Democrática do líder histórico Ramos Allup entregando-o a José Bernabé Gutiérrez. O Irmão de Bernabé passou a fazer parte do CNE

Allup é vice-presidente da Internacional Socialista desde 2012, à qual Ação Democrática é filiado.

Ação Democrática foi um dos três partidos que assinaram o Pacto de Punto Fijo em 1958, após a queda do ditador Pérez Jiménez.

Nas eleições regionais de 2017, AD teve a totalidade dos governadores da oposição de direita, menos o governador de Zúlia.

No caso do PPT (Pátria Para Todos), o controle do Partido, que estava prestes a abandonar o GPP (Grã Polo Patriótico) foi entregue pelo TSJ (Tribunal Superior de Justiça) a uma junta diretiva com três membros. Uma minoria passou para a APR (Alternativa Popular Revolucionária).

No caso dos Tupamaros, o líder histórico José Tomás Pinto, favorável a romper com o Governo, foi acusado de assassinato e afastado. Eles controlam um dos coletivos mais importantes da “parroquia” 23 de Janeiro, berço do chavismo. Em agosto de 2020, o TSJ suspendeu a direção do partido e nomeou outra dirigida por Williams José Benavides Rondón para mantê-lo no GPP.

O Primeiro Justiça de Hugo Capriles foi intervindo pelo TSJ em junho impondo a José Brito como presidente. A medida acabou não sendo reconhecida pela direção anterior, o TSJ revogou a medida em setembro, Brito saiu do Primeiro Justiça e criou o Primeiro Venezuela que não conseguiu participar das eleições.

O Primeiro Justiça também não participou. Este partido tinha sido formado com US$ 20 milhões transferidos pela mãe de Hugo Capriles, que em 1992 era diretora de PDVSA.

O Partido Voluntad Popular, de Leopoldo López e Juan Guaidó, de extrema direita, teve a direção suspendida em julho pelo TSJ. Foi imposta uma nova direção presidida por José Gregório Noriega que tinha sido expulso do Partido.

O papel do auto-nomeado Presidente da Venezuela  Juan Guaidó?

A crise do “chavismo” começou em 2013, logo após a morte de Hugo Chávez, impactado em cheio com a queda dos preços do petróleo.

Em dezembro de 2015, a direita tinha vencido as eleições legislativas e só por meio de manobras o chavismo conseguiu evitar que tivesse dois terços das vagas o que lhe permitiria até depor o Governo.

Tratava-se do fim da era Hugo Chávez que tinha vencido mais de 20 pleitos eleitorais e perdido apenas o referendo de 2007 quando buscava ampliar ainda mais seus poderes.

A direita acabou embrenhada em disputas internas o que lhe impediu enfrentar os ataques do Governo.

Em 2017, estouraram as “guarimbas”, numa nova onda após os acontecimentos de 2014. A direita bloqueou quase o país interno mobilizando gente nas ruas de maneira parecida com o que vimos no Brasil em 2013. Havia farto dinheiro do imperialismo canalizado pelos governadores e prefeitos da direita.

Nas “guarimbas”, além de proibir as pessoas até de sair das suas casas, houve repetidos fatos de barbárie, como quando queimaram vivos simpatizantes chavistas.

Quando o desgaste da direita havia avançado, o governo Maduro liquidou as “guarimbas” em três dias, prendendo alguns prefeitos da direita que operavam as finanças.


Em maio, foram chamadas eleições à Assembleia Constituinte, com 545 deputados, como contraponto à Assembleia Nacional. Nunca funcionou como tal e não fez outra coisa não ser validar as ações que o Executivo precisava.

Imediatamente chamou a eleições regionais, para governadores, que foram realizadas em outubro de 2017. Essas eleições deviam ter sido realizadas em 2016, mas o governo Maduro as adiou porque podia perder várias das 20 governações (de um total de 23) que controlava.

Em dezembro de 2018, foram realizadas as eleições municipais. Essas eleições foram boicotadas pela então MUD (Mesa de Unidade Democrática), da qual participavam todos os principais partidos da direita.

Em janeiro de 2019, Juan Guaidó se auto proclamou como presidente da Venezuela e foi reconhecido pelos Estados Unidos e mais 60 países.

A atuação de Guaidó foi praticamente nula. Serviu ao imperialismo para se apropriar das reservas do ouro venezuelano na Inglaterra e da Citgo, a filial da PDVSA nos Estados Unidos.

A tolerância do governo Maduro em relação a Guaidó se relaciona com a crise do “chavismo”. No final de 2018, o descontentamento com a escalada da crise no país tinha impactado em cheio a base chavista, que tinha passado a exigir a saída de Maduro.

Com Guaidó e as várias tentativas de invasão do país, apareceu a necessidade da unidade nacional para “defender a pátria”.

Para onde vai a Venezuela?

A crise capitalista na Venezuela se tornou insustentável.

Os serviços públicos se encontram ultra sucateados apesar de serem quase de graça. Em Caracas, raramente há água mais de que uma hora por dia. Em várias outras cidades pode faltar durante mais um mês.

As filas para comprar gasolina podem ser de vários quilômetros. Os venezuelanos têm o direito de comprar 120 litros mensais por quase nada, mas não é raro que não há gasolina. Até falta no preço internacional de US$ 0,50 o litro.

Não por acaso, o Irã anunciou o envio de mais 10 navios a Venezuela, apesar da propaganda oficial de que as refinarias estariam fornecendo o necessário.

O salário oficial é de US$ 3 mensais que é recorrentemente desgastado pela brutal inflação e a crescente tendência à internacionalização dos preços das mercadorias de consumo, até porque a maioria são importadas.

A pobreza aumenta e o sucateamento é generalizado.

As indústrias estão quase todas paralisadas inclusie as 3.000 que foram privatizadas a preço de ouro durante os governos de Chávez.

Mas o problema mais grave é o brutal endividamento. De acordo com informações oficiais a dívida externa da Venezuela seria de US$ 150 bilhões, Informações confidenciais apontam para uma dívida que seria de pelo menos o dobro, para um PIB oficial de US$ 30 bilhões e extra oficial de também o dobro.

A recente privatização da PDVSA por meio de uma Lei, apesar da Constituição Bolivariana de 1999 expressamente proibi-la e de Nicolás Maduro ter sido um dos Constituintes, as recentes eleições e a nomeação de um embaixador dos Estados Unidos depois de 10 anos apontam para um acordo entre o governo “chavista” e a direita, com o imperialismo norte-americano e os russos e chineses por detrás.

O governo Maduro não passa de uma caricatura de baixa qualidade dos governos de Hugo Chávez que vencia todas as eleições com o maior salário da América Latina e uma enxurrada de programas sociais.

No início do governo Maduro, quem era mais ligado a Chávez foi afastado. A Bolibo-burguesia se fortaleceu e hoje desfila em carros blindados de US$ 150 mil, beneficiando-se do comercio das importações, dos negócios com os russos e chineses, do contrabando e da corrupção em geral.

Do “socialismo do século XXI”, tem sobrado quase nada. Principalmente considerando que a população é quase mantida na semi inanição com caixas de comida, as caixas CLAP, que, além dos desvios, nos bairros de classe média chega duas vezes por mês e nos bairros populares uma vez por mês.

Guerra ou paz?

Com o aprofundamento da crise capitalista mundial, está colocado quem irá pagar o preço da crise, tanto na Venezuela como em toda a América Latina.

Toda a burguesia, incluindo a bolibo-burguesia e seus representantes, buscam que os trabalhadores e os povos paguem pela crise, até para manterem seus privilégios.

A pressão do imperialismo sob o Governo de Donald Trump aumentou. Com várias sanções que inclusive lhe impediram a Venezuela vender o petróleo, que representa pelo menos 80% da economia.

Com o novo governo dos Senhores da Guerra nos Estados Unidos, há a possibilidade de uma negociação com o governo Maduro. Mas o time que Biden/ Kamala estão colocando em jogo deixa evidente que os abutres capitalistas precisam desesperadamente de uma guerra.

A dúvida já não é mais se haverá ou não guerra, mas onde e quando. O imperialismo precisa dessa “saída” para a crise capitalista que ameaça levar a um novo catastrófico colapso em breve. E para isso precisa pacificar o seu quintal traseiro a como dê lugar, por meio de ditaduras pinochetistas. A presença dos chineses e russos controlando um país importante da América Latina é inaceitável para o imperialismo norte-americano, a menos que pague altas taxas por isso.

O governo Maduro como representante da Bolibo-burguesia, e também com os chineses e russos por detrás, tenta desesperadamente chegar a acordos com o imperialismo, que está babando sangue. Os ventos de guerra sopram cada vez mais fortes.

Mas os trabalhadores e os povos começam a acordar e a perceber que devem defender-se da brutalidade dos ataques se não quiserem morrer por inanição.

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