Publicação original em: PCPB (Partido comunista do Povo Brasileiro)
- A crise capitalista mundial avança aceleradamente rumo a um novo colapso capitalista mundial, dentro da crise atual que de acordo com a própria grande imprensa é a maior crise capitalista de todos os tempos. A burguesia mundial se encontra estupefata e é incapaz de colocar em pé uma política alternativa ao chamado “neoliberalismo”, dado os gigantescos volumes de capitais fictícios, diretamente alocados na especulação financeira, que hoje somam entre 20 e 40 vezes a produção mundial que já é muito parasitária;
- A pandemia do Coronavírus é um evento de maior relevância, mas em grande medida está sendo utilizado como máscara para ocultar a crise, salvar os grandes capitalistas e ainda fazer do sofrimento dos povos um grande negócio para os laboratórios;
- Os repasses de recursos públicos aos grandes capitalistas têm sido obscenos. Somente nos Estados Unidos no último ano somam em torno a US$ 9 trilhões, ou seis anos da produção do Brasil. Na União Europeia, superaram os 3 trilhões de euros. Isso sem considerar os mecanismos tradicionais de repasses, como as taxas de juros quase zeradas;
- Conforme Lenin escreveu no célebre livro de 1916, O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo, esta é a última etapa do capitalismo. O grande capital só funciona hoje como capitalismo de Estado, e cada vez mais se engasgando apesar dos repasses obscenos de recursos públicos;
- A chamada ‘Quarta Revolução Industrial”, que seria o crescimento dos investimentos tecnológicos impulsionados pela crise, aumenta a composição orgânica do capital e exacerba todas as leis do capital, que encontra dificuldades cada vez maiores para extrair lucros da produção;
- A principal lei do capitalismo, a extração da mais-valia, que é a exploração da mão de obra ou força de trabalho, representa o principal entrave para o capitalismo, principalmente por causa da apropriação privada dos lucros;
- Os setores de ponta da classe operária continuam representando o agente revolucionário fundamental para sepultar o capitalismo em crise terminal, ao contrário do que apregoa a propaganda imperialista e que a esquerda oportunista ecoa. Existem bilhões de operários de ponta no mundo: aproximadamente 350 milhões na China e pelo menos outro tanto no restante da Ásia.
Na Europa e nos Estados Unidos, apesar do seu número ter diminuído após a migração de plantas industriais inteiras dos países centrais para os países asiáticos, a partir da década de 1980, estes setores ainda constituem entre 15 a 20% da população. Na Alemanha e nos países do Leste Europeu, que atuam como uma extensão da cadeia de produção alemã, a porcentagem é muito maior.
No México, após a movimentação de setores industriais a partir da crise de 2008, o número de operários de ponta cresceu significativamente, principalmente nos setores relacionados com a indústria automotiva orientada ao mercado dos Estados Unidos. No Brasil, há pelo menos 30 milhões de operários industriais ou que agregam valor; - O desenvolvimento tecnológico somente poderá ser destravado liberando-o das amarras do capital. As contradições entre a propriedade privada e a socialização da produção, e entre a globalização dos processos produtivos e os Estados nacionais, coloca que somente a revolução socialista continental e mundial pode ser a saída à crise capitalista mundial, o que implica na expropriação do grande capital;
- A crise capitalista mundial de 2008 ainda não se fechou. E muito menos não se fechou a crise que estourou em março de 2019 semi camuflada pela pandemia, que sido tratada fundamentalmente como uma política militar de controle das massas pela burguesia. E essa política estava preparada e massificada fazia tempo. Hollywood, por exemplo, teve um papel central com vários filmes que muitos anos antes reproduziam a situação atual quase ao pé da letra: vejam por exemplo, o filme Contágio de 2013 que nas últimas semanas tem sido passado várias vezes na HBO.
- As políticas de contenção, que basicamente se concentraram em enormes repasses de recursos públicos ao grande capital, começaram a se esgotar em 2012 e muito significativamente a partir de 2015. Agora, aparece claramente no horizonte um novo colapso capitalista mundial, muito mais violento que o de 2008, tanto por causa da ação do gigantesco parasitismo como pelo enorme endividamento generalizado, principalmente dos Estados burgueses e das grandes empresas capitalistas. Na América Latina o Brasil e a Argentina deverão sair na linha de frente da crise;
- A crise econômica tem levado os regimes políticos à maior crise de Pós-Guerra:
- Na Inglaterra, o chamado Brexit (a saída da Grã Bretanha da União Europeia) revela a incapacidade de todos os setores da burguesia inglesa de oferecer uma saída à crise, seja qual for;
- Na França, Emmanuel Macron, que foi imposto pela família Rothschild para aplicar enormes ataques contra os trabalhadores, teve um certo sucesso na privatização das ferrovias e na imposição da reforma trabalhista por decreto, apesar de contar com a maioria no Parlamento. Mas sob a pressão do movimento dos “coletes amarelos”, precisou fazer exatamente o contrário ao que era a sua política, para conter a revolução: aumentar os salários e retirar o aumento dos combustíveis.
Em 2019, o déficit público ficará muito acima dos limites da União Europeia que é de 2%, subindo para 3,2%. Mesmo assim, os protestos continuaram e hoje continuam contra a Lei da Segurança Nacional que busca estabelecer como política de estado o anti-terrorismo contra a população; - Na Itália, o regime político está caindo aos pedaços, como reflexo da crise econômica. O bipartidarismo, que representa o mecanismo preferencial de controle do regime pelo grande capital, entrou em crise terminal assim como acontece em quase todos os principais países. A crise tem escalado a níveis tais, que o ex presidente do BCE (Banco Central Europeu) Mario Draghi foi imposto como primeiro ministro para salvar os grandes capitalistas;
- Na Espanha, Portugal e Irlanda a crise é monumental. As condições de vida dos trabalhadores caíram pela metade desde o início da década passada;
- A Alemanha, que é coração da Europa, entrou em recessão e a estabilidade política a partir da CDU/CSU, de Angela Merkel, está quase implodida, com os fascistas ganhando posições;
- No Japão, que é uma das duas grandes potências imperialistas industriais, junto com a Alemanha, o regime se mantém com muitas dificuldades, às custas do superendividamento do Estado. A saída da crise é buscada pela burguesia no ressurgimento do militarismo fascista;
- Na Inglaterra, o chamado Brexit (a saída da Grã Bretanha da União Europeia) revela a incapacidade de todos os setores da burguesia inglesa de oferecer uma saída à crise, seja qual for;
- Nos Estados Unidos, Donald Trump não conseguiu entregar o que o grande capital em crise exigia: uma guerra importante. Os 15 elementos mais próximos a Trump foram apeados do governo e substituídos por elementos muito próximos ao chamado Deep State, ou “estado profundo” controlado a sangue e fogo pelo grande capital, mas isso foi insuficiente.
Nas eleições presidenciais, os “democratas” foram impostos por meio muito mais fraudulentos que os que tinham imposto o próprio Trump. Os negros, gays, imigrantes e mulheres no novo governo que boa parte da “esquerda” mundial elogiou, mantêm ligações muito próximas com o complexo industrial militar; - O aumento das contradições do imperialismo norte-americano vai muito além da imposição de guerras de tarifas contra a China. A guerra econômica tende a evoluir rapidamente para a guerra política que, por sua vez, tende a evoluir para a guerra militar;
- A China é um fator fundamental da política mundial. A locomotiva do mundo enfrenta grandes dificuldades para conter a escalada da crise. Para enfrentar o desenvolvimento das tendências revolucionárias se vê obrigada a impulsionar o expansionismo no sentido de ela própria se tornar uma potência imperialista:
- As duas políticas chinesas fundamentais são o “Novo Caminho da Seda” (vias rápidas para o envio de mercadorias à Europa com a inclusão dos países intermediários, e a Rússia atuando como pivô) e o Made in China 2025;
- Essas duas políticas a coloca na linha de frente das contradições, principalmente com o imperialismo norte-americano, que não pode aceitar ver questionado o seu controle tecnológico do mundo. Os casos envolvendo as gigantes das telecomunicações como a Huawei e a ZTE têm evidenciado essas contradições de maneira muito clara. Está em jogo o controle do mercado mundial, que até agora sempre foi resolvido por meio de grandes guerras;
- As duas políticas chinesas fundamentais são o “Novo Caminho da Seda” (vias rápidas para o envio de mercadorias à Europa com a inclusão dos países intermediários, e a Rússia atuando como pivô) e o Made in China 2025;
- O aprofundamento acelerado da crise na China, com o estouro de uma das bolhas, como a imobiliária, a do consumo ou a das chamadas empresas zumbis, tem o potencial de jogar os países exportadores de matérias primas e de toda a região Pacífico da Ásia em enorme crise, detonando uma profunda crise mundial;
- Os investimentos diretos dos chineses passaram a representar um componente fundamental da economia mundial. Para salvaguardá-los, a China passou a estabelecer bases militares em várias regiões do mundo. A primeira foi em Djibuti, a segunda na Argentina. Está estabelecendo bases no Afeganistão e na Ásia Central. O imperialismo norte-americano tenta se contrapor a essa política com ataques em todas as frentes, a partir da política do chamado Full Spectrum Dominance (Domínio Total do Espectro), de 2001, que levou o Pentágono a aplicar a metade dos recursos na região Ásia/Pacífico justamente para conter o expansionismo chinês;
- Conforme Lenin escreveu no livro de 1916, o imperialismo também é uma época de guerras e revoluções. O aumento das contradições entre o imperialismo norte-americano e a China/Rússia faz parte da luta por uma divisão do mercado mundial, o que sempre tem acontecido por meio de guerras sangrentas;
- A disputa entre as potências capitalistas está levando o mundo a uma guerra mundial que adota, por enquanto, a forma de guerras regionais. O imperialismo norte-americano tem sofrido derrotas recorrentes nos quatro cantos do planeta e, por esse motivo, ele busca fortalecer o controle da espoliação da América Latina e expulsar a China e a Rússia da região;
- O imperialismo se sustenta precariamente semeando guerras localizadas pelo mundo afora, utilizando uma enorme e caríssima máquina bélica e, para isso é obrigado a atacar até mesmo as condições de vida dos trabalhadores dos seus países de origem, já que nem sequer os recursos que canaliza a partir do narcotráfico e outros mecanismos “ilegais” lhe tem sido insuficientes;
- O grande capital em crise nos direciona a uma nova e grande guerra como a “saída” capitalista à crise. Há várias zonas de conflito críticas, como o Oriente Médio, a Ucrânia e a agressividade da OTAN contra as fronteiras ocidentais da Rússia, e o Mar do Sul da China.
O imperialismo tinha rebaixado parcialmente a presença no Oriente Médio, na Ásia Central e no Sul da Ásia para se concentrar na América Latina. O objetivo do governo Trump era se fortalecer para empreender novos voos. Agora com os novos “senhores da guerra” parece que a agressividade dos governos Bush que foi mantida de maneira semi camuflada por Obama deverá ser retomada; - A agressão militar contra a Venezuela é um dos componentes dessa política, até porque se trata do aumento das contradições com os russos e os chineses. Mas a agressividade tem se manifestado contra toda a região. A Operação Lava Jato por exemplo, cumpriu um importante papel nesse sentido;
- A imposição de ditaduras militares sangrentas a partir do Brasil tem como objetivo conter o movimento de massas e, ao mesmo tempo, fortalecer os planos guerreiristas. Hoje nos encontramos num período em que os regimes estão sendo fechados de maneira acelerada;
- Em grande medida, o modelo que está sendo imposto no Brasil segue o modelo da “democracia” pinochetista chilena que levou ao maior levante de massas em 60 anos na região;
- A crise na Argentina e no Brasil avança a passos largos, alastrando toda a região, sob a pressão parasitária do imperialismo norte-americano. A disparada do peso argentino e da inflação se tornarão em breve na norma, porque não será possível rolar o crescente endividamento público e privado que tem se transformado no principal mecanismo de espoliação. Uma volta à década de 1980 piorada;
- Por causa da profundidade da crise, os mecanismos tradicionais de contenção do movimento de massas têm se desagregado. A crise econômica tem levado ao endurecimento dos regimes políticos no mundo inteiro que tendem ao bonapartismo. O grande capital impulsiona o fascismo e os golpes militares para manter o controle;
- A tendências orgânicas que surgiram após amplos movimentos espontâneos de massas, como o Syriza na Grécia e o Podemos na Espanha, rapidamente se adaptaram ao regime e foram à direita;
- Os mecanismos de contenção da classe operária, estruturados no “pacto corporativo” (Estado-Capital-Trabalho), se encontram esfacelados. A burocracia dos sindicatos e das organizações de massas que era um dos pilares desde a ex-URSS, se encontra em fase terminal; agora a contenção se dá diretamente utilizando o aparato do estado burguês, vide a repressão aos coletes amarelos na França;
Os trabalhadores ainda se encontra semiparalisados, mas já apresentam sinais de que não irão suportar os brutais ataques colocados, que tendem a ser cada dia maiores. A continuidade das mobilizações no Chile, na França e no Haiti, junto com algumas mobilizações em Myanmar e outros países representam apenas o descontentamento que se torna mais generalizado a cada dia.
Estão colocados para o próximo período grandes ataques e grandes enfrentamentos. O nosso papel como revolucionários é organizarmos a resistência a partir da organização dos trabalhadores e do povo.