(Matéria original publicada em abril de 2019)
Os 100 dias do governo encabeçado por Jair Bolsonaro estão marcados pelo acelerado aprofundamento da crise capitalista mundial e o colapso do regime político colocado em pé pela Constituição de 1988. Praticamente todos os partidos políticos foram implodidos sobre a pressão do imperialismo norte-americano, por meio de instrumentos da Operação Lava Jato, num processo que vinha desde o segundo governo FHC. Este tinha provocado um forte descontentamento das massas que foi contido pelos governos do PT, principalmente pelos governos Lula.
Jair Bolsonaro foi imposto pelo imperialismo norte-americano por meio de grotescas manobras. Desde a prisão fraudulenta de Lula, passando pela facada fake, a campanha da imprensa golpista que começou seis meses antes da campanha eleitoral (que durou apenas 35 dias); os ataques contra as empresas nacionais; as fake news de Bolsonaro regadas a muito dinheiro da caixa dois; a fraude eleitoral aberta por meio das urnas eletrônicas, as únicas do mundo que não admitem auditoria física, em papel; a imposição pela pressão da imprensa golpista da candidatura de Fernando Hadadd como candidato do PT, o queridinho do capital financeiro internacional.
Antes de Bolsonaro ter assumido o governo, já estava sendo bombardeado com o “caso Queiroz” (corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro envolvendo um dos filhos do Bolsonaro). Logo após assumir continuou sendo bombardeado com o caso das fake news; seguido dos vínculos com as milícias e os assassinos a soldo. Houve o papelão de Bolsonaro em Davos e o entreguismo mórbido nos Estados Unidos. A Rede Globo se transformou a principal defensora de “desvendar” o assassinato de Mariele Franco. A campanha da imprensa burguesa mundial se intensificou para apresentar Bolsonaro como um nazista idiota, rodeado por ministros olavistas dementes por uma centena de militares “equilibrados”. O vice-presidente, o general de extrema direita, Hamilton Mourão, tem sido apresentado como o “estadista”, o elemento estabilizador perante as “maluquices” descontroladas de Bolsonaro, os filhos dele e os seguidores de Olavo de Carvalho. E o pior, sob as palmas do grosso da esquerda integrada ao regime.
“Desvendando” o “mistério” da rápida subida e queda de Bolsonaro
Para entender o “mistério” da rápida subida e queda de Bolsonaro, o ponto de partida é o entendimento da situação internacional; o rápido aprofundamento da crise capitalista; a política desesperada do imperialismo na tentativa de salvar os lucros dos monopólios.
O Ocidente já faz alguns anos que não consegue mais fazer investimentos produtivos industriais. A chamada Quarta Revolução Industrial está tencionando as contradições capitalistas até as últimas, principalmente com o aumento da composição orgânica do capital, com a diminuição da mão de obra empregada e com o visível aumento do exército industrial de reserva.
A evolução da crise econômica tem levado ao aprofundamento da crise política em todo o mundo. O Brexit, a saída da Inglaterra da União Europeia, junto com o aumento da guerra comercial com os Estados Unidos, resume a crise na Europa, onde as condições de vida das massas têm piorado sensivelmente.
O imperialismo norte-americano está muito longe de ser a mesma superpotência que dominou a Europa e boa parte do Pacífico. Hoje não consegue nem sequer controlar o Afeganistão, um dos países mais atrasados do Sul da Ásia. E teve que se retirar do Oriente Médio e do Norte da África devido à implosão da política para a região, que, de tão desastrosa, além de tê-la deixado quase em chamas, acelerou as tendências centrípetas de aliados importantes. A Turquia está se aproximando do bloco encabeçado pela China e a Rússia, apesar das fortes pressões. A Arábia Saudita começou a comercializar petróleo em moedas locais, o que representa uma linha vermelha para o imperialismo já que disso dependem os chamados petrodólares, a “maquininha de imprimir dólares podres” com os quais o mundo é inundado.
O imperialismo norte-americano busca se fortalecer na América Latina por meio da imposição de ditaduras ferozes. Essa política passa pela derrota do chavismo na Venezuela e pela imposição de um novo pinochetazo no Brasil, como modelo para toda a região.
A massas se encontram ainda atordoadas por causa das décadas de “neoliberalismo”; das exportações de plantas industriais para a Ásia e a compra da esquerda e da burocracia sindical, que agora se integraram com mala e cuia ao processo golpista. Para o próximo período devemos esperar um novo colapso capitalista mundial, muito mais duro que todos os anteriores, e levantes espontâneos como reação à escalada dos ataques. O dever dos revolucionários é se preparar para atuar nessas condições para organizar a classe operária rumo à revolução socialista.