Por Marchesano
A luta do Saci é a luta do brasileiro. O folclorista Luís da Câmara Cascudo disse que o Saci é o pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça que o faz encantado, ágil e astuto. Amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias, durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, in-localizável e assombrador.
A abóbora do Imperialismo, conhecido pela alcunha ‘Halloween’ aqui imposto, é própria dos grandes centros urbanos. Saci é tropical. Dado à fauna e flora brasileira.
É popularíssimo no Sul do Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Perdeu qualquer vestígio religioso, sendo apenas um diabrete atormentador, sem maiores consequências. Vive com o cachimbo na boca, furtando fumo para matar o vício. Assombra os viajantes noturnos, esfalfa os cavalos, montando-os e correndo horas e horas, espavorindo animais domésticos, escondendo o que se procura, assobiando, pulando, atrapalhando.
É o responsável por todos os desarranjos e pequeninos desastres caseiros. Sua personalização no corpo de um negrinho é influência africana, mas o mito atual é um exemplo de convergência de vários folclores. Há em Portugal um negrinho de carapuça vermelha que aparece às crianças, durante o verão, fazendo caretas provocantes, assim como um molequinho da bota vermelha que intervém nas velhas estórias tradicionais.
A indicação da carapuça vermelha é evocação demoníaca, sinônimo do Diabo, tanto em Portugal como na Espanha. Acresce que a carapuça vermelha era popularíssima na indumentária dos mareantes portugueses desde o século XV, e vemos que os capitães da armada de Pedro Álvares Cabral ofereciam aos tupiniquins de Porto Seguro, em abril de 1500, barretes vermelhos.
Arteiro que só ele, o Saci quer dar um jeito de se apropriar das abóboras do Halloween e oferecê-las aos famélicos feito escondidinho de carne-seca, numa receita nacional.
Cadê os saciólogos?
O menino travesso, perneta e alegre não pode ser sucateado pela abóbora do Imperialismo. Brincadeiras e travessuras de sua parte não são permitidas. Meticulosamente os agentes do atraso, correspondentes do império, atrasam o relógio de nosso avanço cultural colocando-nos como arcaico.
Saci não vale a pena ser vivido nem festejado. O Saci é o retrato do atraso, da pobreza e do arcaísmo. Devemos nos ater ao moderno, ao pujante e ao vivaz – dizem os sociólogos yankees paulistas.
A cultura do norte nos conclama. Sejamos suas marionetes. Melhor estar no camarote ao lado do dono da festa ouvindo o som das palavras doces do que numa pista de dança abarrotada – complementam os sociólogos.
Brasileiros – Saci é folk. Folk é popular. Popular não é tech, mas é tudo!
No Saci não há valor de troca, tão somente de uso.
Na falta de defensores, nossa cultura é totalmente vilipendiada. Como a natureza não aceita vácuo, logo o remédio que surge contra a carência de travessuras é a abóbora do império.
Brincadeiras ou travessuras, não.
#MovimentoOcupaSaci