EDUCADORES ÀS RUAS! PROFESSORES, PRESENTE! A CONTRARREFORMA DO ENSINO MÉDIO

EDUCADORES ÀS RUAS! PROFESSORES, PRESENTE! A CONTRARREFORMA DO ENSINO MÉDIO

A contrarreforma do ensino médio vem sendo comemorada por setores da direita e pelo grande empresariado. Diante de tal avanço, os partidos de ‘esquerda’ e as centrais sindicais vêm defendendo somente uma parca “greve sanitária”. Sem eira nem beira, os professores vêm amargando grandes derrotas. No começo do ano de 2021, professores estaduais e municipais de São Paulo sofreram uma forte derrota em suas tentativas de greve. O burocratismo dos sindicatos associado à truculência dos executivos estadual e municipal conseguiram derrotar os grevistas.

Isso evidencia que não há nenhuma contradição entre a falta de uma política dos sindicatos e a privatização do ensino público. Uma coisa corrobora com a outra, pois é muito mais fácil impor perdas aos professores diante da inércia dos sindicatos. Quanto aos partidos de esquerda, a defesa que estes fazem dos professores é somente na via parlamentar, tentando canalizar o descontentamento e a desmoralização dos professores para as eleições de 2022. É em época de eleição que temas como educação, saúde e segurança entram na pauta de todos os candidatos, mas passado o pleito o que fica são as ordens dos financistas de campanha.

É neste marco de imobilismo e desmoralização que a ContraReforma do Ensino Médio vem sendo aplicada. Os defensores dizem que os alunos ganharão mais autonomia de escolha, poderão eles escolher um dos cinco itinerários encontrados na lei 13.415/2017. Tudo na letra da lei é lindo, contudo não foi o apóstolo Paulo que disse – ‘A letra mata, mas o Espírito vivifica’. No vale de ossos secos quem fará o papel do profeta Ezequiel para invocar o espírito vivificador? Enfim, a intenção dos sindicatos comprometidos com a ordem dominante é manter tudo como um grande vale de ossos secos. Fome, carestia,
depressão, falta de perspectiva, lares destruídos e outros males, acompanham os professores no presente momento.

A lei 13.415/2017 prevê o aumento da carga horária do ensino médio de 800 para 1000 horas/ano, totalizando 3000 horas quando somado os três anos. Fantástico. Pois agora além de escolher os alunos estudarão mais, muito mais! Entretanto, esse ‘mais’ carrega a ironia do destino. Não é um ‘mais’ que carrega uma melhor qualidade, mas um ‘mais’ que carrega uma maior quantidade de horas que o aluno que pretende cursar uma Universidade pública terá de estudar, uma vez que as únicas disciplinas obrigatórias serão ‘Português e Matemática’. Poderei eu escolher qual pergunta responder no vestibular? Claro que não, o caderno de prova nada mudou. O que aconteceu foi o aprofundamento da exclusão. Assim poderemos elaborar o slogan ‘Brasil: um país de poucos’.

Voltando ao nosso delírio, dialogando com a poesia de Murilo Mendes, o visionário, vamos tentar traçar concretamente essa ContraReforma. Levando em consideração que a matemática é uma ciência exata, como poderei eu, Estado Nacional Brasileiro, sustentar o aumento efetivo de 2400h para 3000h sendo que no ano de 2016 foi aprovada a Emenda Constitucional de número 95, a qual limita o investimento nos serviços públicos durante vinte exercícios, ou seja, vinte anos? A conta não fecha queridos alunos? Olha que tal questão vai cair na prova? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! A matemática não
consegue dar resposta a essa questão, por quê? Porque ela é uma questão política, não uma equação matemática.

Aqui eu começo a entender a não obrigatoriedade das ciências humanas no Ensino Médio. Por que refletir se a lei é explorar? Voltando a questão anterior, qual é a resposta?

Clique na imagem para saber o Projeto de Lei 1595/2019 que criminaliza os movimentos sociais

O artigo 36, parágrafo 11, explica: “Para efeito de cumprimento das exigências curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer competências e firmar convênios com instituições de educação a distância com notório reconhecimento, […]”. Ainda bem que há plataformas como a Google Classroom e a Microsoft Teams, asmquais que além de vigiarem a minha prática docente, permitirão aos alunos estudarem em casa por meio dos vídeos do “Fala galera” nos celulares de 5’5 polegadas no plano prépago ou com pacotes de dados limitados. Isso soa como um deleite aos ouvidos das grandes fundações, em especial, a Fundação Lemann do empresário de ‘sucesso’ Jorge Paulo Lemann, o qual teve seu nome associado ao escândalo do Banestado e do Panamá Papers. Mas isso é coisa de invejoso.

O importante é se inspirar em uma de suas palestras e aceitar de olhos fechados o famoso e tão aclamado ‘Ensino Híbrido’. Calma, não estou falando da ‘mula’, resultado do cruzamento do jumento com a égua, mas o Ensino Híbrido é tão infértil quanto. Com ele o aluno poderá aprender sozinho, em grupo, ou sozinho de novo. O importante é a centralidade do aluno. É o aluno que deve escolher se ele irá estudar ou não. Ainda que não haja estrutura nenhuma em sua casa, a escolha deve ser do aluno. Viva a democracia! Quem irá completar a carga horária desse aluno serão as grandes plataformas digitais, as mesmas que guardam as aulas dos professores em bancos de dados, processando-as e as transformando em cursos vendáveis sem o pagamento de nenhum direito autoral. Fala mestre!

Isso é a maravilha do mundo digitalizado, você pode ser um precarizado conformado sem sair às ruas. Afinal de contas, cada um de nós carrega uma ‘Time Square’ no bolso. Isso é ser Smart.

Com a Time Square em seu bolso, você pode ser um professor a nunca dormir as 8 horas necessárias e continuar sendo considerado como um Messias ao mesmo tempo que governantes, sindicatos e direções escolares vos massacram. Afinal de contas, todo professor é chorão. Reclama de barriga cheia. Concordo!

Cheia de comprimidos de tarja preta a fim de regular e manter seu estado emocional devastado pela carreira que escolheu seguir. Aos professores, os terapeutas! Aos terapeutas, mais professores!

Contudo, as benesses da ContraReforma do Ensino Médio não param por aí. São muitas ofertas aos professores e aos alunos. O próprio artigo citado da lei 13415/17, o artigo 36, diz que – ‘O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, […]’.

Observe: o currículo do ensino médio será composto pela BNCC e por viagens formativas, até aqui tudo lindo, mas no decorrer do artigo encontramos ‘que deverão ser organizados por meio de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas. O que é bom dura pouco! Pensemos esta reforma em contexto periférico dos grandes centros urbanos e em zonas sertanejas, qual será o resultado?

O fim da parca e pouca educação e escolarização que esses lugares ainda têm. Muitas escolas localizadas nesses lugares já estão em plena decomposição. Sem professores, sem banheiros, sem cadeiras e carteiras, sem giz, sem papel, sem lousa. Isto é, sem nada! Com a reforma os governos se veem livres de suas obrigações e dirão a essas escolas: – Adaptem suas estruturas ao contexto social e às suas possibilidades. Que em outras palavras pode ser traduzido: – Fechem os portões dessas
escolas e fechem os olhos para o aumento do analfabetismo.

Bem-vindos à agenda dos grandes bancos que financiam as grandes fundações e organizações não-governamentais.

Clique na imagem para saber mais sobre a uberização dos empregos

A palavra de ordem dessa agenda é ‘sangue a qualquer custo’. Sem estudo e sem trabalho reduz-se a massa salarial e justifica o desemprego com o velho e doce jargão dos jornais multinacionais: – Emprego tem, o que falta é mão de obra especializada. Bingo!

Isso lembra os cultos ministrados pelas igrejas dos grandes curandeiros, eles ministram a cura para as enfermidades no altar e quando a cura não vem eles olham para os fiéis e dizem: – Você é um homem de pouca fé. Assim, os jovens ‘Nem, nem’, assim chamados pelo IBGE, serão considerados – Jovens de pouca fé! Na verdade, dentro do atual cenário de crise “Nem, nem” significa “Nem eu, nem você”. Em suma, “Nem ninguém”. Como eu sou um professor concursado e tenho minha estabilidade garantida não me atreverei a enfrentar tal cenário. Mas, com licença caro leitor, você poderia me dizer em
que pé anda a PEC 32?

Talvez você esteja se perguntando: – Que PEC é essa? É aquela que tira a estabilidade do servidor público, permitindo, dessa forma, que o estado demita o funcionário público a qualquer momento.

Hummmm…

Isso me lembra uma brincadeira de criança, a famosa ‘Batata Quente’.

E aí, ‘Queimou?’

Clique na imagem para saber mais sobre as liminares

Claro, caros amigos, que os servidores a serem demitidos não serão os dos escalões de confiança do estado e dos poderes constituídos, mas sim aqueles que estão no dia a dia da população marginalizada e precarizada. Talvez seja a hora de você começar a se despedir daquele professor que tanto te marcou na escola pública, daquela enfermeira de bairro que tanto te ajudou ou até mesmo daquela assistente social que de semana em semana passa em sua rua perguntando: “Dona Maria, tá tudo bem contigo?”

Não se lamente por isso, com a aprovação da PEC 32/2020 (contra Reforma Administrativa) os cargos serão distribuídos segundo o critério a ser adotado pelos políticos eleitos.

Quem já viajou para as cidades interioranas do Nordeste brasileiro sabe do que estou falando. Lá não há sindicatos, não há revolta, não há lutas salariais, não há grito. O que há é um prefeito que distribui cargos e amarra todas as pessoas contempladas à sua imagem. Um bom negócio, não?

Mas se você estiver insatisfeito com a solução apresentada, existirão as plataformas digitais oferecendo esses serviços através de parcelinhas que cabem no seu bolso. Calma, eu não estou falando da TekPix, mas estamos diante de uma TecnoMania. Você também, querido professor, poderá se incluir nos aplicativos para oferecer sua aula magna por um precinho bem interessante.

Estamos diante da uberização da educação. Pois é isso que essa reforma trata.Diante de tal contexto, qual a importância para as elites dominantes a permanência da crítica nas escolas?

Nenhuma. Aqui o projeto “Escola sem Partido” se conjuga com a BNCC e a contrarReforma do Ensino Médio. A BNCC garante o mínimo dos mínimos. A contrarReforma do Ensino Médio a aplicação desse mínimo dos mínimos. E nesse mínimo dos mínimos ninguém questiona. Acreditaram na briga entre a Tabata Amaral e o antigo ministro da educação, Ricardo Vélez?

O projeto de ambos é não ter projeto, e alcançado esse projeto o não-projeto tornar-se-á o projeto. Confuso, não? É assim que as centrais explicam a ContrarReforma do ensino médio e outras des-propostas das elites dominantes. Sinpeem, Apeoesp e Sinteps estão em pura sinergia com o avanço da privatização da educação pública. Não nos enganemos!
Talvez, esteja na hora de organizarmos a fila em torno dos caminhões frigoríficos cheios de ossos para distribuição. Temos que nos contentar com a estética da escassez, pois não foi isso que o filme ‘O Poço’ da Netflix nos educou? Ops, nos mostrou?

Nenhuma produção cinematográfica é inocente!

Sem trabalho, sem renda, sem sindicato, sem partidos qual será o futuro? Fome, peste e morte! Lembra que estou na figura do Visionário de Murilo Mendes? Não nos esqueçamos que a sua poesia foi escrita no avanço do nazifascismo e no calor da Segunda Grande Guerra Imperialista, e qual o cenário de hoje? O avanço do bolsonarismo em todas as estruturas sociais. Bolsonaro não é a totalidade do bolsonarismo, tão somente a sua expressão presente. O bolsonarismo está presente e enraizado no judiciário, Senado, nas Câmaras municipais, estaduais e federal, nas polícias militares, civis e federal, na PGR,
nos Ministérios Públicos estaduais e federal, nas Forças Armadas, nos partidos de direita e da dita esquerda, nas burocracias sindicais, em muitas ONGs e Fundações, em muitas das grandes Igrejas Evangélicas, nas milícias paraestatais e no crime organizado.

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